sexta-feira, dezembro 14, 2007

para não dizer que sou tão episódica

São apenas uns quinze minutos e alguns acordes. É lindo aquele dedilhar na guitarra, é de uma destreza extraordinária. Nunca vi seu autor, apenas sei que é meu vizinho, músico profissional, e que brinda a vizinhança com aqueles quinze minutos de um som vigoroso, ora roquenrol, ora um entoar mais jazzístico, algumas vezes MPB. Nunca me incomodou. É intenso, o ar e o espaço vibram, mas é breve.
O que me faz pensar que o barulho dos outros, em boa dose, não incomoda.

quarta-feira, novembro 14, 2007

sem filhos vs com filhos

Numas de suas deliciosas crônicas, o João Ximenes Braga gerou uma polêmica enorme sobre uma suposta rixa entre pessoas com filhos e sem filhos. Virou SF vs CF e vice e versa e foi de tal monta a polêmica que ensejou uma reportagem no Fantástico (o programa domingueiro da musiquinha que a muitos angustia). Isso rendeu ainda mais umas duas colunas daquelas suas quinzenais no Ela e até hoje me lembro da verve dos passantes em seu blog em defesa de uma categoria ou outra.
Claro que os SF tinham acabavam perdendo, embora tivessem mais humor e fina ironia. Difícil competir com quem seguiu o roteiro direitinho do Criador no que toca a “crescei e reproduzi-vos”. Parece que os SF, além de não reproduzirem, também não cresceram. Além do mais, tem algo de desnaturado em reclamar da falta de educação das crianças. Além de não terem tido a competência de gerar filhotes, os SF não se curvam à lei maior da natureza e, pecado dos pecados, não têm paciência com as criaturas diminutas. Mesmo que quebrem seus enfeites, sujem o sofá, falem demais e sejam invasivos.
E tem aquele papo de mãe, de maternidade, de razão da minha vida, o melhor dela etc. Não vou discutir. Estando na categoria SF, ainda que por muito tempo nela tenha estado contrariadamente, é de boa prudência ficar calada.
O que não me agrada é acharem que por ser uma SF tenho todo o tempo livre do mundo, além de, vez ou outra, ainda me deparar com insinuação sobre que eu deveria estar melhor de vida tendo menos despesas. Na ótica destes críticos, se cuido do jardim, dou banho no cachorro e faço henna no cabelo é porque sou uma SF. Se fosse uma CF, não me sobraria tempo para este do-it-yourself. Não ocorre a ninguém que poderia ir caçar borboletas ou jogar xadrez. Não admira, um CF é alguém torturado pela inglória luta contra o tempo – está num lugar pensando em outro e tudo isto neste momento da comunicação móvel, em que os telefones celulares são ditadores compulsivos. Aliás, devo confessar uma coisa: detesto aquele tom de voz tolo que se usa com os miúdos, em especial quando são galalaus que já olham de forma erotizada para as amigas das mamães deles. Já os SF dispõem da eternidade para seus não-afazeres.
Voltando, talvez eu devessa estar melhor de vida. Curioso, sempre ouvi dizer que os SF gastam mais porque se divertem mais. Sobrando-lhes este tempo livre tão invejado, é claro que lhes devia sobrar dinheiro. Não é esta, porém, a lógica de alguns dos CF. Estes acreditam piamente que dinheiro é algo que eles fazem jus, e que deveria, para eles, minar de algum lugar mágico, já que as despesas de seus rebentos se equivalem ao Triângulos das Bermudas. Enfim, até os CF não se entendem muito sobre o tempo e o dinheiro dos SF. E também não se justifica que um SF disponha de muito espaço para morar. Na visão de muitos CF, eu deveria estar instalada num catre.
Quanta ilusão. Quanto desconhecimento. E que saudade do blog do João.
Uma coisa, porém, é certa: às vezes observo pássaros.

sexta-feira, outubro 26, 2007

dois sucessos e um fiasco

Numa das vezes em que estive em SP ano passado a trabalho tive a boa idéia de pegar um vôo cedo para poder ver a exposição “Grande Sertão Veredas” que estava em cartaz no Museu da Língua Portuguesa. Foi uma experiência sensorial que sorvi aos poucos. Havia um imenso encantamento de todos que lá estavam. A mostra, linda, original e inusitada, era abrigada em salas pequenas, contíguas, que iam sendo descobertas no percurso. Ela se revelava aos poucos - e assim surpreendia. À parte uma ou outra interjeição dos visitantes e, ao final, a voz de Maria Bethânia lendo um trecho da obra, imperava um silêncio quase solene. Saí feliz e encantada. Ontem o acaso me levou a Casa França Brasil, onde está a exposição “180 Anos da Indústria Brasileira”, que ignorava totalmente. Também saí feliz, com um sorriso dos lábios. Há de tudo lá. Desde o Brasil Colônia até agora, passando pelo Brasil Império, início da República etc. Há originais dos artefatos, de toda espécie de inventiva, de indumentária, objetos pessoais, toda a sorte de produtos industrializados. Tudo está separado por épocas e a partir delas está caracterizado um ator ou uma atriz que ali ficam integrando o lugar e o seu espírito. Uma graça. É um programa para todas as idades, para mentes curiosas. O fiasco? A montagem de “Grande Sertão Veredas” que no sábado passado casualmente vi no MAM, onde tinha ido para assistir a exposição “Marilyn, um Mito”. Não tem a menor graça, a sensação de mistério que tinha a montagem paulista ali ficou esvaziada. Instalada numa grande parte do mezanino, ficou tudo reto, sem contorno, sem descoberta. Além disso, havia um evento de arte para crianças no andar de baixo, o que transformava o lugar num enorme centro de algaravia. Ou seja, uma mostra linda que perdeu o encanto original. Então, é o seguinte: vale correr para ver esta exposição que está na Casa França Brasil. Uma mostra boa é uma conjunção de muitos fatores e nesta estão todos lá.

quarta-feira, outubro 17, 2007

o efeito-chimpanzé


Em nada me admirou saber que 98% de minha informação genética coincidem com a de um chimpanzé. Ora, se coincidem em 80% com a de um porco, nada mais justo. Fico divagando em quanto será a coincidência com uma vaca, visto sentir-me assim amiúde uma vez por mês. Parece que não importa, somos todos mamíferos e a minha experiência com cães já demonstrou que há um denominador comum em termos de mazelas dos seres viventes sobre a Terra. O meu cão, por exemplo, é epilético, cardiopata e recentemente ficou diabético por causa da idade (tem doze anos), o que o levou à catarata, da qual se operou de uma vista e voltou a enxergar. Como nos humanos, uma coisa puxa a outra. Depois me ocorreu essa história de Mônica Veloso, a jornalista que se deitou com Renan Calheiros (tem gosto para tudo) e que, deste leito, gerou uma filha. Pensei furiosamente no efeito-chimpanzé e nos descobri sendo todos reféns deste determinismo genético. Não é um conceito difícil de apreender. As mães ensinam as filhas; os pais, os filhos; as amigas e colegas da escola, umas as outras; os professores aos alunos e etc. Não há criança que queira ser diferente da outra; antes, se querem rigorosamente iguais, em tudo e por tudo, o que uma tem a outra vai querer também. Isso é idêntico no comportamento mais sutil, o que revela que uma atitude é mais do que fruto do “compre isso, consuma aquilo”. Este efeito-chimpanzé explica até o fenômeno da moda e como é fácil aos marqueteiros ganharem a vida. Não é complicado induzir alguém a se comportar como outrem, basta o simples argumento de que alguém já se comportou de tal maneira antes. Nestas sutilezas sobre a moda, aliás, observei que há modismos a grassar em ambientes mais recolhidos, em sub-grupos. Já vi no foro, num dia de chuva, umas duas dúzias de pares de botas parecidíssimas calçadas por advogadas e estagiárias, o que diferia um pouco em termos de estatística com o resto da cidade – botas não eram o último grito naquele outono, mas parecia que ali, naquele reduto, o eram. Ah, sim, a peladona do momento e o efeito-chimpanzé. Deve o desnudar-se de uma jornalista algo valorosa ter sido por ele causado. Virou moda, qualquer pessoa que tenha ganho notoriedade, não importa o porquê, interessa a este específico segmento do mercado editorial, há uma imensa curiosidade em ver nua a mulher-potin do momento. Não me surpreende, um amigo muito sábio e já bem veterano nesta vida uma vez me disse, embalado pela sabedoria que duas doses de destilado lhe conferem, que “tarado é alguém normal pego em flagrante”. Vai ver que sequer de sua autoria é a frase, mas que é sábia, lá isso é. Enfim, é tão-somente uma macaquice capturada pelo mercado. Dizer assim seria um reducionismo impróprio? É possível. Porém, é redentor. Qualquer coisa idiota que um dia venha a fazer, estarei sob o manto do efeito-chimpanzé, do qual dificilmente algum mortal escapa. Mas que não me entendam mal: certamente não interessaria às revistas masculinas nua. Se bem que para este “específico segmento editorial” até que eu poderia escrever umas historinhas interessantes...

terça-feira, outubro 02, 2007

Piaf, Única e comum


Imagine alguém nascido pobre, abandonado pela mãe e depois pelo pai, criada pela avó dona de um bordel, e que, ainda bem criança, fica cega e recupera a visão quase que por milagre. Imagine alguém que se vicia em heroína para aliviar a dor que sente em decorrência de um quase-fatal acidente de carro, e que perde o amor de sua vida num acidente de avião. Imagine que este alguém, nascido sob o pálio da tragédia, é uma mulher e que se chama Edith Piaf, dita “La Môme Piaf (“o pequeno pardal”), magnificamente bem retratada no filme de Olivier Dahan. “La Môme” ou, em português, “Piaf – Um Hino Ao Amor” é um tributo tardio, mas não por isso menos valoroso. É um filmaço.
O roteiro, também de Dahan, gira em torno de três eixos, Piaf criança e em início de carreira, Piaf no auge de sua fama e forma, e Piaf alquebrada pela doença, um pouco antes de sua prematura morte aos 46 anos de vida. Estes três eixos se intercomunicam ao longo do filme inteiro e faz ver como cada condição, cada fase da vida, informa a outra. Em nenhum momento a história se perde; ao contrário, cada vez ganha mais sentido a personagem. É um senhor roteiro.
A atriz que faz a retratada não poderia estar melhor. Nunca ouvira falar em Marion Cotillard, nunca mais a esquecerei. O mis-en-corps, a voz, a expressão vocal, tudo remete à Piaf, à sua essência. Marion Cotillard é uma intérprete rara.
E Piaf dispensa qualquer comentário - morta há mais de quarenta anos, não há quem desconheça sua versão de “La vie en rose” e “Je ne regrette rien”, não há quem não identifique imediatamente sua voz ao primeiro timbre. E, no entanto, era apenas uma mulher como qualquer outra, que apenas queria amar e ser amada.
p.s. este texto foi publicado na página do Jornal "O Globo" na Internet.

sexta-feira, setembro 14, 2007

de volta ao batente

Estive fora, e este fora pode ter vários significados. Estive fora de serviço, de pensamento, de élan, de vontade de escrever. Fora deste blog e de outros muitos de que gosto também, embora tenha maltraçado umas linhas no meu outro blog, o “na blogosfera”. Nada muito digno de nota, não estivesse esta ausência coincidido com a perda de um amigo.
É verdade, eu perdi um amigo.
É algo imensamente triste perder algum afeto, seja em convivência, seja em confiança, seja em bem-querer. Não ver mais, não mais saber, não ouvir falar, não ter sua voz, sua presença. Não importa o motivo, e mesmo que seja um alívio, é triste perder um amigo.
Eu perdi um amigo virtual, alguém que nunca vi. Perdi por uma razão tola, por ciúme de sua mulher que cismou que flertávamos um com o outro. Isso nunca aconteceu e não sei exatamente o que pode tê-la levado a esta idéia. O fato é que, tal qual paranoicos que passam a vida a urdir contra si teorias conspiratórias, agarrou-se furiosamente a esta ideia a ponto de me mandar mensagens desaforadas. Eu não me desaforei, aquilo nem de leve me atingiu, salvo pelo fato de ter ficado impossibilitada de ter por aqui a presença de meu amigo virtual.
Mas passou. E estou de volta.

quinta-feira, agosto 02, 2007

o dia em que fiz uma entrevista

Agora foi minha vez de entrevistar e está no meu outro blog - "na blogosfera" - link ao lado.
A entrevistada é minha amiga Ana Luiza, de quem já falei abaixo, e ficou bem divertida.

quinta-feira, julho 05, 2007

queixa

Não entendo bem o que estou fazendo aqui. Quer dizer, entendo, mas não me conformo. Gostaria mesmo é de estar , cercada por quem aprecia o que eu aprecio, sentindo a maresia no ar e comendo moqueca.
Mas cá estou a teclar, diante deste monitor que parece ser meu irmão siamês – às vezes sinto falta dele e digo que parece que fomos separados no berço.
Enfim, estou contrariada, será mais uma edição a passar. Podia até ficar lá na Joana. Fazer o quê? Ganhar a vida. Mas mês que vem vou dar uma escapadinha, se Deus quiser. E com as bênçãos de Maria, minha mãe.

quinta-feira, junho 28, 2007

o dia em que dei uma entrevista

Muito divertido. Ana Simples Assim, doce criatura da blogosfera, resolveu que deveria me entrevistar para o seu blog. Ela escreve uma coluna sobre Internet, blogs, comportamento e é dedicadíssima, toda semana tem mil novidades, fico sabendo de tudo por ela.
Aliás, a Ana Luiza é uma comunicadora nata, ela é um link, um amálgama, um neurônio, uma sinapse. Nasceu para ligar as pessoas às coisas, as coisas às pessoas, as pessoas às pessoas. É uma simpatia.
Valeu, Ana! Como te disse, a sensação é como a de fazer teatro na escola, misto de nervosismo e acanhamento. Tempos que não me divertia assim.
A entrevista está no blog da Ana Luiza - "Simples Assim, em 'beta' - no link ao lado.

quarta-feira, junho 27, 2007

famiglia

A Maria me ligou ontem à noite dizendo que sua mãe é mesmo uma índia, como ela desconfiava. Disse que se queixou de uma “dorzinha” na altura dos rins, foi ao médico, fez uns exames e descobriu que tem uma pedra enorme, do tamanho de uma pedra pome, algo inimaginável. O médico ficou estarrecido e não compreendeu como poderia aquela senhora falar, se mexer, e não estar em estado de total catatonia com uma pedra daquele tamanho dentro dela.
É que ele não conhece a família da Maria.
Outro dia a avó, à mesa, fez um muxoxo e, enquanto mastigava, tirou uma coisa da boca; discretamente, a colocou ao lado do prato. Perguntada sobre o que era, disse: “meu molar, o último que me restava, vou fazer uma simpatia”. Continuou comendo como se nada se passasse. Não tem nem um dente na boca, mastiga com as gengivas.
O curioso é que, se nesta família são estóicos para si, são sensíveis para os outros, de uma delicadeza de sentimentos raramente vista. Acontece de eu estar aborrecida e só assim me perceber através dos olhos da Maria. Nem percebo que estou contrariada, mas ela percebe. Muitas vezes é ela quem me comunica o que sinto.
Enfim, o fato é que a mãe da Maria, diagnosticada ontem, foi operada hoje pela manhã e está ótima, diz não sentir nada (não admira). Deve ir para casa amanhã, no máximo depois de amanhã. A Maria viu a pedra e me disse que era realmente enorme. Faço idéia.
Aposto um bombom como no sábado a mãe da Maria estará de pé na cozinha, fazendo o almoço da famiglia, dizendo “não foi nada, minha filha, era só uma pedrinha...”.

quarta-feira, junho 20, 2007

mas e o que vc respondeu?

A pergunta fiz aos outros, que aqui muito disseram.
Agora eu me pergunto, pergunto eu a mim mesma – escrever por quê?
Para dialogar comigo mesma, para preencher este espaço que existe entre aquilo que percebo e o que intuo; escrevo, o pouco que escrevo, para conversar com meu inconsciente estando bem acordada, diferente de quando durmo e sonho, talvez palavras sejam feitas de uma matéria quase onírica; escrevo porque me reinvento e me exponho, porque ouso, porque nunca sinto medo quando escrevo. Escrevo para o ar, para quem conheço e para quem não conheço, para conversar com quem nunca encontrei, mas com quem, ainda assim, acabo por ter um encontro.
Escrevo porque fiz uma pergunta e pessoas que nunca vi me responderam.

segunda-feira, junho 18, 2007

por que escrever?

Sempre ouço esta pergunta (naturalmente não dirigida a mim) e as respostas são mais ou menos as mesmas. Escrevem, os que escrevem, para extravasar as neuroses, por precisar, querer e gostar, para salvar a vida, para inventar outra, para fabular, para organizar um turbilhão que lhes roda dentro, para desorganizar este raio de turbilhão que lhes roda dentro, para morrer um pouco, reviver outro tanto, para se servir das palavras e estar perto delas, para comunicar, embora não raro se descomunique, para ganhar a vida, por pura diversão, por salvação, por danação, não sabe.
Mas e o que se sabe nesta vida?

segunda-feira, maio 21, 2007

about us

I would have loved tou dearly, honey.

As a matter of fact, I did loved you
but you just took me for granted,
made a terrible mistake
(a sort of misunderstood)
gave up the two of us
just like that…

I have to tell you again
you would have loved me
you could have permitted yourself a little bit of crazyness
but instead
you just gave up
turned the page so easily
and left me so helpless
- so helpless -

I’m still lost, babe

quinta-feira, maio 10, 2007

sobre a saudade

É estranho sentir saudade, mais ainda saber que esta palavra, no seu sentido preciso, não existe em outras línguas.
Tenho saudade de tudo, todos e de coisas bizarras, coisas que, em geral, não são propriamente objeto da saudade de ninguém.
Saudade da faculdade, de ter estudado na PUC no tempo da ditadura. Saudade dos pilotis, do intervalo nos pilotis. Saudade de fazer ginástica num tempo em que ninguém fazia e tinha meia dúzia de dois ou três gatos pingados em sala. Saudade do meu primeiro emprego, aquela exploração. Saudade da amiga que me traiu antes da traição, de ovo frito com feijão que nunca mais comi, daquela vegetação rasteira que havia na areia da praia de Ipanema que fazia cócegas na sola do pé. De uns chinelinhos de couro malcheirosos que se usava quando eu era adolescente. De ser adolescente, claro, este deve ser o ponto g da minha saudade. De não viajar a trabalho, de escrever a mão, de ir a cinema na orla (Rian e Miramar). Pode ser manjado, mas tenho saudade. De ficar espantada com peça de teatro, tanto quanto fiquei com “Trate-me Leão”, e de ler Clarice Lispector e Lillian Hellman pela primeira vez. De falar horas ao telefone com o namorado.
É assim: passou, tenho saudade.
Dizem que se sente saudade do que ainda existe mas que está longe, e nostalgia do que não existe mais. Não sei.
Sei que sinto.

domingo, maio 06, 2007

Dommage... (ou Vive la France!)


Torci vivamente por Ségolène Royal nestas eleições, não apenas porque sempre torço pelos socialistas na França, e faz três eleições que nada levam, mas porque seus adversários são cada vez mais seres rancorosos, como me parece ser Sarkozy. Não faz muito tempo e Le Pen foi alçado ao segundo turno em 2002, quando Jacques Chirac, impressionado, teve que rebolar e conclamar o povo a ir às urnas. Sim, os franceses, embora politizados, andavam blasés em relação a política, talvez solapados por tantos impostos e sem uma única janela aberta para um porvir mais promissor.
Agora, porém, não foi necessário: o povo acorreu maciçamente às urnas e, embora alguns veículos da mídia francesa falem em vitória acachapante de Sarkozy, o próprio iniciou seu discurso, logo após declarado vencedor, com loas à sua adversária e àqueles que nela votaram. Ele, que não é bobo nem nada, sabe que democracia não é ditadura da maioria, e sabe também que não são desprezíveis, em número ou qualidade, os votos angariados por sua adversária.
Acho realmente uma pena que a candidata dos socialistas não tenha ganho, uma pena que os socialistas não tenham conseguido sair do imobilismo em que imergiram diante das novas necessidades da sociedade francesa, ou que não tenham sabido comunicar a alternativa que acreditaram, à última hora, possível.
Uma pena.
Não, contudo, ver a sociedade francesa novamente mobilizada, os ideais e valores da república agitados com tanto fervor, o amor que nessas horas é declarado à França por seus compatriotas. É interessante ver um jornalista iniciar uma entrevista com o presidente da república por “boa noite, fulano de tal”, dispensando tratamentos formais, ou de que valeria o conceiro republicano de igualdade?
E é emocionante ver o discurso da candidata derrotada, com uma cara nada derrotada, aos seus militantes, terminar em “vive la France”, tal qual termina o discurso do candidato vencedor; o hino francês, ao fundo, cantado a capela pelos militantes.
Só me resta fazer coro: "vive la France!".


(foto capturada do site www.lemonde.fr)

segunda-feira, abril 23, 2007

Salve, São Jorge!



Salve, São Jorge, santo guerreiro, co-padroeiro da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro!

quarta-feira, abril 18, 2007

coisas que meu psi não explica

o esporte nacional da maledicência e da malquerença; a mobilização de forças em pequenezas; a omissão em questões verdadeiramente importantes; o gosto por "babados"; a cultura do "babado forte"; o disse-me-disse; a falta de ética nas relações pessoais.
E mais alguns etc etc etc.

sexta-feira, abril 13, 2007

tão longe, tão perto


honey:

Há tempos não nos vemos, da última vez que falamos você tinha queixas de morar longe daqui e da hostilidade que andava enfrentando de pessoas próximas. Eu te compreendo perfeitamente, conheço essas pessoas, e críticas de quem se acha uma tela plana, de alta resolução, estando longe disso, costumam incomodar.
Mas saiba que o vento muda o sopro, mudou súbito para mim, e neste mundo bizarro, de tantas contrariedades e antagonismos tolos, neste mundo em que se descarta a gentileza e a leveza com tanta facilidade, e que o julgamento tem sempre primazia sobre a afeição e sua natural perenidade, estranhamente não tenho tido do que reclamar.
Sinto-me em paz.
E pessoas andam me sorrindo na rua, pasme você.
beijos mil,
D.

quinta-feira, abril 12, 2007

sábado, março 31, 2007

lá que outra

coisa que não entendo
é presença obrigatória
sorry,
sou episódica

as chaves perdidas e a mesma pergunta

As chaves perdidas no fundo da bolsa
o vôo atrasado
a semana acabou e acabou comigo
(toda sexta penso sobre a velocidade do tempo).
Cheguei.
E diante da porta, antes de abri-la,
retenho-me um pouco e sinto um alívio
sabendo-me tua.
Quase vinte anos e a mesma pergunta:
será isso o amor?

quarta-feira, março 28, 2007

O que a Internet mudou na sua vida?

Para mim algumas coisas mudaram. A mais importante certamente foi contar com uma valiosa ferramenta de consulta para o trabalho, e não saberia dizer como vivi até aqui sem ela. Parece banal, mas é muita coisa poder acompanhar um processo judicial “à distância”. Poupa-me o potássio que perco quando transpiro, o dinheiro do táxi, minha rala paciência nos cartórios, uma ou outra sola de sapato. É bem verdade que roubou o rasante no meio da tarde, mas rasante obrigatório não tem graça.
Outra coisa foi ver um certo triunfo da palavra escrita. Sempre se falou muito, sempre se escreveu pouco. Agora não, agora todo mundo escreve e o e-mail é prova disso. É curioso porque realmente se escreve como se fala. Às vezes me parece até que, lendo um e-mail, estou vendo a pessoa falando na minha frente, seus trejeitos, entonação e gestos. Esta é uma das formas mais eficientes de aproximação de pessoas que já vi depois de um vinho à mesa.
A outra eu diria que foi não tirar do armário, mas da gaveta. Da gaveta para a virtualidade, é isso o que acontece. Esses blogs nada mais são do que a abertura dessas gavetas, aquelas a que se refere Virginia Woolf como o destino certo de uma idéia latente ou natimorta. Além do mais, aproximam pessoas pelas suas idéias ou as contrapõem também pela mesma razão.
Nunca pensaria ficar tão afeita a uma tecnologia, esta coisa tão recente. Assim como jamais poderia supor que ficaria tão vidrada em yoga, esta prática tão antiga.

sábado, março 17, 2007

sobre a hipocrisia

característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação. Ex.: com a h. que lhe é peculiar, pôs-se a adular a sogra
2 ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade. Ex.: ela veio com a habitual h., mas não me enganou
3 caráter daquilo que carece de sinceridade. Ex.: a h. das palavras
Dicionário Houaiss

O Presidente da República andou falando a respeito, reclamando como de costume de seus pares políticos, outro dia ouvi um comentário sobre a necessidade da hipocrisia na vida social, sobre as múltiplas mentiras que se contam todos os dias (por volta de 60 diariamente, não pensei que falássemos tantas); enfim, o assunto, vira e mexe, vem à tona.
Talvez porque toda pessoa traga em si uma bela dose de hipocrisia.
O que chama a atenção é que ninguém admite tê-la, provavelmente o mesmo fenômeno que ocorre com a inveja, da qual todos se dizem objeto, jamais sujeito.
Não fosse a hipocrisia, porém, certas profissões ficariam altamente prejudicadas, ou mesmo seu exercício restasse totalmente impossibilitado (diplomatas, políticos, advogados, marqueteiros, publicitários, poetas, escritores, donas de casa, socialaites); talvez sem ela fosse o mundo mais beligerante do que já é.
Não faço a apologia da hipocrisia, claro que não. Confesso-me hipócrita, o que é bem diferente. Sim, é verdade, mas não sou hipócrita o tempo todo; aliás, o sou bem raramente. Em tempos mais iludidos, sofri mesmo as conseqüências de um certo excesso de sinceridade, mas isto não vem ao caso. Vivi, aprendi, não necessariamente evoluí. E confesso mais outra imperfeição: a de estar abaixo da média nesse quesito. Seja como for, é no ponto inverso que mora o perigo, é a livre manifestação do pensamento que move alguém de sua zona de conforto para a linha de tiro. Da sala de visita para o front.
Porque ninguém tem preconceito, não é mesmo? Oh, claro que não! Vá você expressar algum para receber, incontinenti, a enxurrada de censura dos politicamente corretos, os que, a exemplo dos invejosos, jamais comungam desta torpeza. Vá você confessar seu desconforto com alguma minoria, hoje alçada à condição de casta sacrossanta e intocável, e receba - de imediato - sua sentença à la carte: ser empalado vivo ou crucificado no hall dos elevadores, como queira.
É a vida. Seja a dos hipócritas militantes e declarados (raros), seja a dos confessadamente e por vezes hipócritas, seja a daqueles seres virtuosos que, ao se incomodarem com a sinceridade alheia e não perceberem que só se vê no outro o que se é, são duplamente hipócritas.

Mas sobre isso, evidente, não se fala.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

se

se eu acordar na hora
(se o despertador tocar)
se não pegar muito trânsito
se não chegar atrasada
se o dia não for muito apertado
se nada me aborrecer demasiado
se não cair nenhuma tempestade de verão
se não ficar presa em reunião até tarde
se à noite eu estiver sã e salva
eu juro pelo que há de mais sagrado:
o que restar de mim é teu.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

o carnaval é o povo

Não que eu seja elitista. Não que eu não goste da diversidade. Não que eu seja a tal ponto exclusivista que não possa dividir um canto da areia da “minha” Ipanema com outras pessoas. Mas o que vi neste carnaval em termos de freqüência foi praticamente uma visão do inferno. O Congo é aqui e não me lembro de ter feito reserva na Air-Congo para este carnaval.
Jamais, em tempo algum, vi tanta gente feia, nunca vi tanta gente gorda. Mentira dizer-se que este é um país de famélicos – este é um país de gordos. Ou, então, mais este paradoxo: um país de famintos gordos. Famintos gordos que, aliás, passam o tempo todo a mastigar.
E que gordura feia. Deparei-me com os mais variados tipos de bundas e barrigas e coxas e peitos. E braços e costas e... Diante de tal quantidade e feiúra, algumas perguntas me ocorreram.
Por que tantas varizes? Eu não tenho varizes, minhas amigas não têm varizes, e a esta altura já poderíamos tê-las. Tampouco as tem minha mãe e a mãe de minha mãe também nunca se queixou desta mazela. Alguma informação genética? Alguma outra predisposição?
E por que brotoejas pretas na bunda? Fiquei especialmente intrigada com a possível causa das tais brotoejas, copiosas em alguns casos. Será algum tipo de dermatite de contato advinda do fio sintético usado na confecção de peças íntimas de baixa qualidade? O fato é que nunca, jamais, alguém de minhas relações apareceu à praia com a bunda toda coroada de brotoejas, o que me leva a supor que nunca tiveram brotoejas. Brotoejas pretas, bem entendido. Pontos de negror gritante.
Além de brotoejas e varizes, a gordura. Um verdadeiro carnaval (desculpe o trocadilho) de barrigas dos mais inusitados feitios. Pequenas mas flácidas, grandes mas duras, caídas de um lado, com várias dobras, em alguns casos mais dramáticos um verdadeiro simulacro de gravidez. Sim, pareciam mulheres grávidas de gestações múltiplas. Barrigas abusadas, destas a começar nas costas e a se expandir para além do espaço que poderiam, já com bastante generosidade, ocupar.
Bundas. Céus, as bundas. Aqui eu poderia poupar minha meia dúzia de dois ou três leitores, mas não resisto, tenho que falar. Porque não eram bundas de pessoas físicas, eram bundas de pessoas jurídicas. Bundas sociedades anônimas de capital aberto, com ações negociadas na bolsa de valores. Bundas commodities. Bundas safras recordes. Nunca vi nada parecido.
Fiquei estupefata e que não se venha com o argumento que tem o lado bom, porque diante deste quadro qualquer uma se acharia ótima etc e tal. Assim não vale.
Não que eu seja elitista.

domingo, fevereiro 11, 2007

A Contribuição de Carlo Ponti para o Mito da Vagaba Perfeita

Não basta ser vagaba, tem que ser com estilo. É das mais deslavadas mentiras uma mulher dizer-se liberada ou vadia ou o que seja, porque são raras as que conseguem chegar no limite da perfeição, na radicalidade do conceito da vagabunda perfeita. E este é o sonho de muita mulher, sejamos francos.
Dizem alguns, até, que uma vagaba ‘a vera’ tem um espírito de vagabunda, algo que precede a sua militância.
Eu a conheci bem cedo e foi por acaso. Não era especialmente bonita, mas bonitinha. Com uma harmonia de traços e um bom corpo, sabia quem era, não tinha a ousadia de se sentir mais do que seus atributos lhe conferiam em termos físicos, como tampouco queria ser mais bonita. Era o que era e ponto. E nem precisava de mais beleza, pois tinha a perfeita noção de seu magnetismo e de sua ascendência sobre os homens.
Era séria, não de muitos sorrisos. Devia comunicar, com esta pseudo-seriedade, que se resguardava para seus eleitos - e talvez fosse isso mesmo. Vestia-se simplesmente, não havia produções maiores. Com os vestidos da época, ‘chemisiers’ que hoje vestiriam a mais pudica das donas de casa, não chamava a atenção. Mais uma de suas sutilezas furta-cor.
O fato é que era uma liberada mesmo. Como um capitalista que quer maximizar seus lucros, ela queria mais. Mais homens, mais amantes (de preferência provedores), mais sedução. Mais diversão, mais novidade. A bisavó do atual conceito de diversidade. E os abandonava, um após o outro, após o outro, após o outro. Antes que o homem pudesse imaginar um rompimento, ela o anunciava no auge da paixão e do apego. It’s over, c’est fini, finito. Punto e basta.
Eles ficavam loucos. Um deles, artista plástico rico e desajustado, cobriu-a, literalmente, de dinheiro, ela morta de rir nua deitada na cama da mãe dele, uma mansão em Roma. Pois nem dinheiro e nem jóias a seguraram. Dias depois, ele a vê, com seu vestidinho de sempre, descer uma daquelas escadarias comuns em cidades italianas feliz da vida com seu novo par. Ele enlouquece, a procura mil vezes em vão, promete-lhe mundos e fundos, ela nada. O pobre homem se consome, nunca mais pinta um quadro e é por isto que o filme se chama “Telas Vazias”, uma produção bem antiga de Carlo Ponti que eu, com os olhos estatelados na micro telinha da TV preto e branco do meu quarto (era então uma grande coisa ter TV no quarto), assisti, com onze anos de idade, na Sessão Coruja de um sábado.
Se eu tivesse talento para ser uma vagaba, teria recebido, bem precocemente, o roteiro da dita perfeitíssima das mãos de ninguém menos do que Carlo Ponti.
Ele morreu outro dia e me lembrei deste filme, do qual, na verdade, nunca esqueci.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

querido leminski

com leminski aprendi
que tudo se desaprende
que distraída, vencerei
a dor
que o poeta deveras sente

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

... e a resposta para encerrar em definitivo o insólito frisson

(a pergunta é: teria o episódio tanta importância para causar tamanha celeuma? ou, por outra: que mistério esconde a psiquê humana para se comprazer com coisa deste tipo?)

"Não que isso seja um 'mea culpa', que um 'mea maxima culpa' não é. Não há nada, miseravelmente nada que possa ser considerado insultuoso na tal mensagem, o potin do momento a grassar copiosamente na 'turma' (segundo me disseram), imagino que à míngua de melhores potins (cá entre nós, que miséria, heim?). Nenhum adjetivo malsão, nenhum comentário ofensivo tipo “o cara é um chato” ou similar. Há, sim, uma confissão de uma amiga para outra de que o comportamento de alguém, uma pessoa a quem se queria ter na pura conta da amizade, a constrangeu.
Sim, a tal mensagem foi, por distração minha, mal endereçada, isso já deve ter sido percebido. Penitencio-me. De fato, peço desculpas, do fundo do meu coração, com toda franqueza d’alma, por não ter usado meus neurônios de forma mais eficiente ao teclar o comando “enviar”. E por esta tão-só razão é que a mensagem aqui segue copiada para quem aquela primeira, a famigerada, foi equivocadamente transmitida.
Quanto ao conteúdo, sinto dizer que dele não poderia me escusar por uma razão muito simples: não estaria sendo sincera contigo. Eu não aprendi a mentir, em que pese minha quase provecta idade. Desculpe, mas fiquei constrangida com aquele comportamento seu, digamos, ‘intimex’. Fiquei tão embaraçada que perdi o elán, e estava adorando dançar ali no meio do povo naquela festa dos trinta anos; sentei-me e não voltei à pista. Excesso de suscetibilidade? Não creio, não costumo ser especialmente suscetível em assuntos de amigo-amiga.
Eu perdi a naturalidade com você e isso é muito chato quando acontece com um amigo homem. Eu tenho amigos homens, nunca deixei de tê-los nestes quase vinte anos de casada, amigos apenas meus, é uma coisa minha gostar de trocar idéias com eles (às vezes até mais com eles do que com elas), meu marido sabe disso e não me censura. Por exemplo, adoro conversar com o "X" (estamos querendo marcar um chopp com um amigo comum há séculos) e também com o "Y" e com o "Z" (conversei horas outro dia com o "Z" na casa da "C", uma delícia). Adorei reencontrá-los, tenho o maior carinho por todos vocês rapazes. Aliás, quando vc apareceu fiquei muito contente, tanto que te escrevi uma mensagem de boas-vindas. Então logo contigo, uma pessoa em quem semprei achei a maior graça, não poderia conversar naturalmente? Muito chato. Quer dizer ainda que não poderia te dar um poeminha de presente de aniversário como dei pro "B" outro dia? Que teria que ficar na retranca? Que miséria. Saiba que ficaria realmente triste.
E mais triste ainda fiquei ao saber que você não havia entendido o que eu dissera.
Mas espero que agora saiba, sobretudo que perceba que não houve intenção de te ofender. E que a mensagem de fato não te ofende, apenas relata um fato. E que, ali, igualmente não há nada que um pouco de leveza e humor não possam sublimar.
Esperemos que um potin mais divertido distraia os corações e mentes da 'turma'.
E que, enfim, possamos nós dois trocar de bem.
Desculpe algum mau jeito.
Da amiga que te quer amigo,
Denise
p.s. peço encarecidamente a todos que não façam reply desta mensagem,não haverá caixa postal que agüente."

a famigerada mensagem endereçada a quem não de direito

(esta mensagem caiu na caixa errada e causou frisson na "turma". A minha pergunta é: o que há de insultuoso nela?)


"eu até havia pensado em ir amanhã dar uma prestigiada nele, mas o caso é que toda vez que o encontro o cara fica me agarrando, me pegando, me chamando de gata, tomando umas intimidades que nunca lhe dei... muito, muito chato! então, num sei, acho que não vou, não. Mas keep cool, gata, já já essa turma rides again e vc vai reencontrar you know who. Ok?
take care, babe.
bjs e saudade"

quarta-feira, janeiro 17, 2007

um certo dia

não senti frio nem calor
não tive fome
não fiquei cansada
tampouco senti o tempo passar

foi um dia inócuo, insosso
não foi um dia como outro
foi um dia como nenhum.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

para a minha...

... tão dileta:

adorei teu cartão de natal, quase ninguém mais manda cartão de natal,
muito lindo.
Também amei tuas notícias
e de tua família
maior agora com a chegada de mais um baby.
Aqui vai-se indo
às vezes pra frente,
outras de lado, quando não se dá marcha à ré.
Redescobri o Circo
que tantas vezes fomos juntas
solteiras e lindas e loucas
e vi Caetano e Zélia Duncan,
esta que te escapa,
mas que te mando em breve em CD.
Quando aportas em Terras Cariocalis?
Lá em casa posso receber vocês todos.
Vem logo!
Precisamos nos dar de presente
um pouco do nosso presente.

imensa saudade,

D.

p.s. este poema aqui ficou meio parecido com um de Ledusha, poeta que adoro e que andei relendo.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

líbero

você assim tão paroxítono
tão pleno de palavras insólitas:
cornucópia, cúpida, híbrida,
cândida, cálida, lânguida,
vívido, cântico, sânscrito,
lépido, líquido, lírico.

você tão quântico e fálico,
eu cômica e súplica
você tão mediúnico,
eu mixórdia
você tão harmônico,
eu bobamente estúpida.

você tão tudo
eu
(...)
quase nada

quarta-feira, janeiro 10, 2007

este feeling que estou sentindo

Fazia tempo que ela não me escrevia, mas ontem recebi um e-mail seu longuíssimo. Fala de variados assuntos, desde digressões sobre as conseqüências de um falso cabelo louro até sua enorme dificuldade de conseguir emprego. Angustia-se por estar desempregada, o que não surpreende. Surpreende, sim, saber que um bloguinho vadio desses aqui pode provocar uma extremada confiança em sua dona. No caso, eu.
Bem, conta que foi a várias entrevistas, sendo que uma delas é descrita com riqueza de detalhes, que participou de inúmeras seleções e de dinâmicas de grupo. Ao fim e ao cabo, sempre a mesma coisa, um telefonema, telegrama ou mensagem dizendo: “obrigada por participar de nossa seleção, seu currículo estará em nossos arquivos para outras oportunidades etc”. Transcreve um dos diálogos e é para ele que ela pede minha atenção.
Falo de Mulata Assanhada.
Não sei bem como dizer-lhe que ela nadou, nadou e morreu na praia. Saiu-se bem, segundo posso supor do diálogo, não mentiu, não enganou, não quis parecer o que não é. Imagino que apreciaram sua redação, tem bossa, bom vocabulário; aliás, um vocabulário muito acima da média. Usa palavras incomuns com precisão, pontua corretamente, tem boa cadência. Mas não sabe falar inglês, e aí está o perigo.
Não o perigo de lhe ser demandado o manejo do inglês, nunca lhe pedem domínio, sequer noções, de língua estrangeira, mas o de empregar expressões em inglês erradamente.
Mulata, sendo breve: não se diz “este feeling que estou sentindo”, minha flor. De onde você tirou isso?

segunda-feira, janeiro 08, 2007

plúmbeo

a moça do bar me atendeu com um certo desespero
o rapaz que buscou meu carro tinha um ar triste
estava desalentado o porteiro, olhando o vento

e sequer é noite neste dia de chumbo.