domingo, dezembro 13, 2015

sobre as marcas deléveis e a semana na inusitada política brasileira

Há duas coisas que não se compadecem da pós-modernidade: a caligrafia e a voz.  Duas marcas tão pessoais, tão particulares e tão indeléveis que estão se perdendo.  São poucas as ligações de telefone; a caligrafia, basicamente, inexiste.  No entanto, basta ler uma carta manuscrita que por alguma razão tenha sido guardada, ou um bilhete, ou uma anotação em agenda ou caderneta de telefone para se pressentir a presença de quem manuscreveu.  Da mesma forma, a voz, hoje reduzida àquelas pessoas da convivência mais íntima, a um entorno muito apequenado, cedeu a mensagens enviadas via aplicativos.  No lugar do calor de uma frase dita, e portanto ouvida, há fotos, mensagens, filmes. Mas nada disso substitui um pequeno bilhete manuscrito ou mesmo a voz de alguém.  O mundo digital substituiu muita coisa - mas substituiu muito mal. 
De outro lado, há coisas que permanecem - o péssimo nível da política nacional, por exemplo.  Na semana que passou, tão bem retratada na coluna de Arthur Xexéo desta semana, viu-se cenas de pugilato no Congresso, como por vezes se vê na Coreia (tenho boa memória), uma carta do vice-presidente à presidente que jamais seria digna de quem ocupa tão elevado cargo na República (algo infantil, do tipo "magoou" ou "estou de mal, come sal, na panela de mingau"), e por fim, mas não por último, uma Ministra de Estado  que, numa festa, ao não gostar de ser chamada de namoradeira por um político de escol, não titubeou: redarguiu com veemência e jogou-lhe o vinho que tinha no copo. 
Abstraído o inusitado da cena, tenho que admitir: Kátia Abreu, quem diria, você é das minhas -  gosta de tudo bem a vera.