quarta-feira, abril 08, 2009

numa páscoa, as maritacas



Eu juro que vi. Na época morava na Gávea num apartamento que tinha uma vista magnífica para o Morro Dois Irmãos. Ficava muito intrigada de nunca ver niguém na varanda, aquelas lindas manhãs absolutamente desprezadas, apenas eu como uma testemunha silenciosa daquele presente da natureza. Onde estavam os moradores que se permitiam perder tudo aquilo? Francamente, nunca entendi. Pois foi num desses dias estranhamente desprezados, bem numa sexta-feira santa, que eu, às sete da matina já de pé me deliciando com aquela beleza de manhã outonal, vi um bando de maritacas se aproximando do prédio e pousando na varanda num andar abaixo do meu. Tive um ângulo de visão diagonal, de maneira que as pude contar. Eram onze maritacas pousadas sobre o guarda-corpo, quietinhas, quietinhas e, de repente, começaram a berrar a plenos pulmões. Fiquei pensando do que deveriam reclamar já que tudo parecia tão perfeito. Então mais uma se aproximou, meio perdida, bem lentamente, e fez-se a dúzia. Ficaram ali por meros trinta segundos e logo alçaram voo. Uma meia hora mais tarde, ao tomar o café da manhã e pensar no que presenciara, percebi que aquela visão havia sido meu presente de páscoa, como se os apóstolos ali estivessem estado e, de uma forma marota e insólita, me mandado um recadinho, um segredo sussurado ao pé do ouvido de que a vida começava então a se renovar. Foi quase uma revelação.
Feliz páscoa!

foto capturada do google imagens