sexta-feira, maio 19, 2006

Almoço com Marcelo

Almoçar com um bom amigo é um refrigério e, mais ainda, se for com um amigo inteligente, gente boa e divertido, como é o Marcelo. Colega de profissão, contemporâneo de faculdade, trabalhou anos no maior escritório de contencioso do Rio de Janeiro e, recentemente, partiu para carreira solo. Elegante, queria que conhecesse seu novo cafofo antes do almoço e lá fui eu, bem feliz por testemunhar sua conquista e também pela promessa de um bom papo. Seu escritório está lindo, novinho em folha, nada sobra, nada falta, e seu sorriso na recepção foi a melhor forma de boas-vindas que eu poderia ter. Simpatia é algo insubstituível. Simpatia é a sua marca.
Por sugestão minha, seguimos, após o tour do escritório, para um restôzinho ali perto bem simpático, comida ótima, ambiente agradável, sem maiores sofisticações ou pretensões. Uma casa honesta. Ele não conhecia e adorou.
Advogados adoram falar de advogados. Não são muitos os colegas (que palavra!) divertidos, mas eles se reconhecem no meio. Nós nos encontramos por acaso, assim nos identificamos, e sempre que estamos juntos nos divertimos.
Advogados são vaidosos. Quer dizer, muitos o são, em especial os que não têm senso de ridículo, os de rala auto-crítica e os que menosprezam a inteligência alheia. Junte dois causídicos com um pouco de verve e mais um tanto de peçonha e - voilà! - está feito o caldo saboroso da maledicência inocente, ou o que quer que isso possa ser.
Entre divagações sobre a vaidade, ele me conta um caso impagável e que, em essência, reproduz uma antiga piada cujo protagonista é o Frank Sinatra. A piada não vem ao caso, mas a história é a seguinte: o dono do escritório em que trabalhou, quando conselheiro da OAB, estava numa daquelas chatíssimas plenárias e recebeu de um colega (que palavra!), aqui chamado de Doutor V, um pedido bizarro, que veio precedido de uma vasta e auto-lisonjeira introdução: “Estive na Bolívia, como você sabe, representando a Ordem, participei disso e daquilo, e hoje vou reportar tudo. Lá ganhei uma medalha, a maior que é dada a um advogado visitante, a "Simon Bolívar Pacificador das Américas", mas acho muito cabotino eu mesmo informar isso. Pergunto se você poderia mencionar o fato ao presidente depois da minha palestra, só para não passar em branco”. “Claro, V!”, disse o ex-patrão do Marcelo, “Mas claro!”. Doutor V reportou sua ida à Bolívia, esteve no congresso tal, proferiu palestra qual, aquilo tudo, e, ao terminar, passou à palavra ao presidente; antes, porém, que o presidente seguisse na pauta, interveio o ex-patrão do Marcelo, como combinado: “Senhor Presidente, pela ordem, e apenas para informar ao plenário, gostaria de dizer que o Doutor V foi agraciado na Bolívia, muito merecidamente, com a maior medalha que lá é concedida a um advogado estrangeiro, a “Simon Bolívar...” e, antes que terminasse a frase, foi interrompido pelo próprio Doutor V: “Isso é besteira...”.
Depois dessa, tive que lhe perguntar se ele próprio não tinha uma historinha de “escada”. Não é que tinha? Ou quase. É a seguinte: ajudando um tio seu que é artista plástico num caso não jurídico, tinha constantes contatos com um ícone da arquitetura brasileira. Certo dia, em reunião com portentosos e potenciais clientes, o ex-patrão junto e tudo o mais, é interrompido no viva voz por sua secretária, que, constrangida, informava que o arquiteto estava ao telefone, que reclamara de sua indisponibilidade momentânea e que queria lhe falar com urgência. Reage então o Marcelo - pedindo licença para atender o telefone, meneia a cabeça com ar de enfado e fala baixinho, como se pensasse alto: “Oscar me enche o saco”.
Marcelinho, que agora está solito pero contento, meu fraternal abraço. E muito, muito sucesso!

terça-feira, maio 02, 2006

A Greve

Muito barulho por nada, muito peido e pouca bosta (como gosta de dizer meu pai em dias desbocados), muita discussão, muita comoção. Prós e contras. O potin do momento. O esposo (agora é esposo e esposa, não sei dizer o porquê de o elegante tratamento de marido e mulher ter sido legado ao esquecimento) da suposta governadora deste combalido Estado do Rio de Janeiro resolveu fazer greve de fome. E, estranhamente - bem estranhamente -, este fato não me arrancou um fiapo de compaixão. Ou de raiva. Ou de retórica. Nada. Nada mesmo.
Francamente, I don’t give a damm shit.
Aliás, estranhamente, não. Porque é verdade que por um desses tortuosos expedientes de que se vale a psique já faz um tempo que não acompanho mais o cenário político. Leio, não muito freqüentemente, aqui e acolá, alguma coisa, umas notas esparsas, um comentário ligeiro. Não discuto mais com ninguém sobre este assunto, e olha que teria assunto. Abstraio-me quando a discussão é esta. Parece que fui tomada por uma repulsa, uma aversão a tudo o que diz respeito a partidos políticos, a políticos, a câmaras, a assembléias, a colegiados. Melhor dizendo: a pessoas neste estado gregário. Nem mais o temor que uns ou outros se arroguem no poder me move.
Honestamente, je m’en fiche carrément.
E não sei o que aconteceu. Quer dizer, sei, mas não quero saber do que sei. Quero, apenas, me dar o auxílio luxuoso do esquecimento - e do silêncio. Não quero mais constatar a triste realidade que são estes os nossos políticos, que são estes os que elegemos, que ninguém se interessa em fazer política partidária, que é este o retrato da sociedade brasileira. Quero ignorar que não alcançamos, em pleno século XXI, um nível razoável de organização.
Sinceramente, pouco se me dá.
E pensar que ainda tem a propaganda política gratuita pela frente.