sexta-feira, abril 02, 2010

o causo do coup-de-foudre e a goiabada

A 'famigilia' se reuniu em peso no último domingo e da reunião brotaram causos.  Do passado e do presente é muita história; não admira, a famiglia é mesmo imensa e a memória é cultivada.  Há uma história que sempre achei meio fantasiosa, mas que parece ser de fato verdadeira, a da noiva que fugiu com o padre no dia de seu casamento, lembrada e relatada a uma prima querida e a mim ainda uma vez.  Ouvimos atentíssimas e pus-me a indagar (ninguém soube dizer, parece que os dois sumiram no mundo) se tiveram filhos, se foram felizes, o que fizeram da vida, onde moraram. Nada se sabe.  Sabe-se, porém, ou pelo menos é o que se conta, que a noiva teria fugido com o padre bem na hora do casório àquela época pudica do fim do século retrasado e naquele fim de mundo.  Figuro os noivos ali, prestes ao enlace, justo no momento do 'felizes para sempre até que a morte os separe' e ela, marota, dando uma piscadela para o padre, o sinal para evadirem-se, o que fizeram num cavalo que ali dava sopa.  Seriam apaixonados já há algum tempo ou tudo se deu mesmo na hora do casório?  Disseram-me ter sido a segunda hipótese, o padre era novo na cidade.   Foi o mais perfeito amor à primeira vista, coup-de-foudre total. Falei a minha prima que um caso de quem larga tudo por um amor demasiadamente súbito e intenso é o avesso do amor impossível, aquela coisa deprê de Abellard e Heloïse, de Romeu e Julieta, criaturas desprovidas de desprendimento e coragem.  Rimos as duas.  Eu, pela história bizarra; ela, suponho que sim, mas também porque antes me confidenciara, com aquela singeleza própria da gente do interior, que está produzindo (e vendendo) nada menos do que sessenta toneladas de goiabada por mês.  Ô, sô!   

foto capturada da Internet