sexta-feira, setembro 29, 2006

São Miguel Arcanjo



Viva São Miguel, arcanjo de Deus!
Viva São Miguel, chefe da milícia celeste!
Livrai-nos de todo o mal e iluminai sempre os nossos caminhos.
Viva, viva, viva!

(29 de setembro, dia dos Arcanjos do Senhor)

terça-feira, setembro 26, 2006

abrigo

abrigue-me em teu silêncio
é nele que quero estar
e já não precisarei do mundo

guarda-me em tua calma
conforta-me em teu peito
aloja-me em teu repouso

o amor não precisa de muito

Síndrome do Concursado

Não é difícil deparar-se com alguém que enche a boca para dizer "sou concursado". Deve parecer-lhe que, em termos de colocação profissional, ostenta um plus em relação ao resto da torpe humanidade. Provavelmente se esquece que talvez este torpe resto da humanidade tenha feito esta opção deliberadamente. Que tenha preferido trabalhar na iniciativa privada. Que seja um empreendedor, um profissional liberal. Enfim, o certo é que o portador da síndrome certamente pensa que esta mesma humanidade é um bando de incompetentes que não passa no concurso em que, ele sim, conseguiu aprovação.
É claro que não são todos assim e é óbvio que não estou generalizando.
Recentemente, eu fui aprovada num concurso público com uma boa colocação. Não creio, porém, que vá ser chamada, mas isso não vem ao caso. Vem ao caso que, se não for convocada, não poderei, infelizmente, exibir a marra de dizer "sou concursada" e, assim, espalhar minha síndrome por aí, em expediente de humilhação à medíocre humanidade.
Mais recentemente ainda, soube de uma boa razão para fazer um concurso público cujas inscrições estão abertas: o salário inicial é de 21 mil reais. Já pensou? Poder dizer "sou concursada", ganhar bem, não ter horário...
Não admira tirem essa onda.

quinta-feira, setembro 21, 2006

o português, este destratado

ou " as pérolas atuais do vernáculo":

Na verdade...
(algumas pessoas iniciam 99% de suas frases com esta expressão);

Na verdade, o que que acontece...
(ligeiro acréscimo à expressão acima, empregado com a mesma intensidade da anterior);
O que que acontece...; e

A fulana, ela viajou...
(aqui eu me pergunto qual a razão desta sofisticação, já que separar o sujeito do predicado por vírgula, salvo em alguns casos, é errado. Nesta hipótese, ainda há a afetação do pronome após a vírgula. Agora me digam: para que serve a vírgula? e o pronome? seria "a fulana viajou" muito simplório?)

Não faz muito tempo vi uma atriz sendo entrevistada por uma pitonisa do jornalismo televisivo e, lamentavelmente, constatei que ela mal conseguia falar: seu vocabulário era de uma criança de 7 anos, no máximo.

E, vendo um programa popular da televisão norte-americana, observei que os entrevistados, pessoas comuns, não raro referidos como "povo ignorante" pelo resto da humanidade, manejam sua língua mil vezes melhor do que o faz a quintessência da elite brasileira.

Não me conformo. E não compreendo.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Rua do Acre

Nas raras vezes que eu não tenho nada para fazer na hora do almoço eu vou flanar na Rua do Acre. Não sei porque, mas eu adoro a Rua do Acre, embora ali tenha todo o caos que esta cidade oferece. Há sujeira, excesso de farmácias, bancos e restaurantes a quilo. Há uma Corte de Justiça e seus indefectíveis engravatados. Calçadas quase não existem. E há putas, putas velhas inclusive. Aliás, por lá transitam putas que levam seus filhos à uma escola pública nas imediações.
Estranhamente, na Rua do Acre existe uma farmácia aonde sempre há o shampoo que eu uso, meio difícil de achar. Aonde a máquina de cheque do banco nunca falha. E aonde eu consegui fazer uma cópia perfeita de uma chave que chaveiro nenhum no mundo conseguia fazer.
Na Rua do Acre eu vi a pessoa mais andrógina de toda a minha vida.
O mundo acontece na Rua do Acre, mas o mundo não sabe disso.

sexta-feira, setembro 08, 2006

está aberta...



... a temporada de ipês-rosas.

(outro dia li no jornal que, se o Brasil tivesse sido descoberto em setembro, teria se chamado Ipê.)

carta para uma tragédia

Sinto profundamente sua perda. A morte de um jovem é sempre algo trágico, fere a ordem natural das coisas, e faz com que se transpasse à categoria das pessoas que viveram uma desgraça. Porque só há duas categorias de pessoas nesta vasta humanidade: as que vivenciaram uma tragédia e as que não a vivenciaram, sendo que estas não fazem idéia do imenso esforço que é preciso para seguir vivendo com tanto pesar. Não é mesmo suposto que o saibam, não as culpo.
Tragédias não se comparam. Tragédias, não perdas naturais. E as nossas não são diferentes, são mesmo incomparáveis. Porém agora, com o coração forjado pela perda, pela perda trágica, talvez agora vc perceba a tristeza que nós vivemos quando a Bel partiu precocemente, depois de mais de ano de um tremendo sofrimento físico. Ela trabalhou contigo por um bom ano antes de adoecer, lembra-se? Por um ano vocês conviveram, ela colaborou com seu ganha-pão. Sua doença e morte, contudo, não ensejaram sequer uma manifestação de sua parte, foi como se nada se passasse.
Tenho muita compaixão da mãe deste rapaz, de seu pai, de seu padastro, de seus irmãos, de seus amigos e de vcs, familiares. Nunca mais a vida será a mesma. Mas Deus é grande, incomensurável a Sua bondade, e, certamente, receberão todos o afeto e o carinho de pessoas bondosas e compassivas.
Receba vc meus sinceros sentimentos. Eu realmente sinto muito.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Os Tristes-Vidas

Desde que a friaca se abateu (fora de época, como virou costume) sobre o Rio de Janeiro que tem sobre mim se abatido uma pena maior ainda daqueles tristes-vidas que ficam no meio da rua segurando um cartaz de propaganda política.
Não vou falar sobre política, há muito me abstraí deste tema.
Mas é que fico a pensar se os políticos imaginam que esta forma de exploração humana contribui para angariar-lhes votos. É muito atraso.
Ficam eles (os tristes-vidas) segurando aquelas cartazes, às vezes em pé, com uma cara de infelicidade mortal, índice zero de militância; outras vezes sentados, o olhar perdido, o tédio estampado.
Dia desses, na Av. Atlântica, me esbaldei: o cartaz de propaganda estava abandonado e, a dez metros dele, o triste-vida que deveria segurá-lo jogava cartas entusiasmadamente com outro triste-vida, o cartaz também no chão. Pensei: "bem feito!".
Afinal, um triste-vida tem direito a um momento de descontração.
Já esses candidatos... bem, deixa para lá.

segunda-feira, setembro 04, 2006

mania nacional

( se vc pensou numa certa parte do corpo feminino, enganou-se redondamente)


Ei-la!
Aí está a mania nacional!
Chova ou faça sol, a insuperável, a intangível, a imbatível: a sandália de plataforma!
Fashionistas, socorrei-me!
Valei-me, senhoras do estilo!
Polícia! Políticos! Mídia! Alguém!
Misericórdia!

Marina Lima



Diminuta e com uma voz tão singular, entrou em cena um pouco tímida, modulando seu tom com uma letra que falava de “sol primordial” e um punhado de poesia. Musa dos anos oitenta, não há ninguém da minha geração que não tenha sido embalado por sua música, não há pessoa que tenha nascido nos early 60’s que não tenha nela antevisto a mudança esperada dos baianos e mineiros que povoavam a MPB naquele tempo. Com todo o respeito aos baianos e mineiros, uma mudança se impunha.
E aí esteve ela sumida, shows só em São Paulo. Ignoro o porquê, já que pertence ao Rio. E o Rio lhe pertence, sempre lhe pertencerá. Foi o que a platéia carioca ontem lhe mostrou, e ela percebeu, e agradeceu, e deu bis. Houve um trecho do show (“Cícero”) que calou fundo. Nada como a poesia musicada, nada como a poesia de Antonio Cícero.
Enfim, era Marina Lima em cena. E, se já não fosse muito rever sua música (grande banda!), ela ainda me mostrou que é possível chegar aos 50 bacana, bacana.