domingo, novembro 29, 2009

Julie & Julia & Nora & Eu

Assistindo ontem Julie &Julia e percebendo as coincidências que permeiam a história do filme, não pude deixar de perceber as coincidências daquela história comigo mesma, já que também eu tenho um blog para maltraçar minhas linhas e tentar de alguma forma expor o que penso, mesmo que eu tenha a quase-certeza que meia dúzia de pessoas, vez por outra, aqui chegam por acaso e ainda que talvez seja o mero exercício de um velho cacoete meu: pensar e escrever.O fato é que adoro a Nora Ephron e seus filmes, amei este "Julie & Julia", e seu livro "Eu odeio meu pescoço" ("I feel bad about my neck", no original) é de rara sensibilidade. Ousei escrever-lhe uma carta, estimulada por seu próprio relato de sempre ter escrito cartas imaginárias para os autores de seus livros preferidos; não posso assegurar que lhe chegou, a remeti aos cuidados de sua editora no Brasil, mas intuo que, sim, ela deve ter lido aqueles três parágrafos que certamente contêm algum erro de inglês. Ao final da sessão, encantada com uma história que conta de forma tão graciosa uma sucessão de acasos e intuição, me lembrei de Paulo Leminski e de seu verso fulminante: "distraídos venceremos".

p.s. Eis a carta para Nora Ephron:

“Dear Nora Ephron:
I have just finished reading your book and I’m completely charmed. I feel exactly like you do after reading something really good: excited and sorry at the same time. A good book should never end.
Since I know now that you use to write imaginary letters to your favorite authors, I thought that I should tell you that although the distance (I live in Brazil) and some age difference (I’m 44) we feel exactly the same way about lots of things.
Thank you very much for sharing your feelings and thoughts in such a charming and open way and also for ensure me that we never quite understand life or love or death or whatever - it’s just the way it is.
Yours sincerely,
Denise Sollami
Rio, Feb, 26, 2007”

p.s2. o vídeo abaixo é delicioso

TimesTalks: Nora Ephron, Meryl Streep and Stanley Tucci



quarta-feira, novembro 25, 2009

o mesmo céu de sempre

o mesmo céu de sempre
ao meu desabrigo, o mesmo firmamento
ao anoitecer de ontem nele vi um novo ponto brilhar
um diminuto ponto, um nada, algo quase imperceptível:

e já não é mais o mesmo céu

domingo, novembro 15, 2009

trinta e seis anos depois


Posted by PicasaVolto à Praia do Forte trinta e seis anos depois de lá ter estado com minha família numas férias de verão. Tudo mudou: o aeroporto, a estrada, o acesso, tudo agora é diferente e voltado para receber o turista.  Na Bahia da era pré-axé havia na Praia do Forte apenas uma vila de pescadores e a sede da fazenda de reflorestamento em que trabalhava um primo do meu pai.  Ficamos naquele paraíso uns dez dias antes de ganhar Salvador, e me lembro perfeitamente de tudo o que então visitamos.  Já a vastidão do mar, os arrecifes o matizando do azul profundo ao turquesa, a areia branca e fininha, os coqueiros adornando o litoral caprichosamente recortado continuam iguais.  Ao caminhar nessa praia e experimentar tanta liberdade e desprendimento, constatei: eu, se mudei, não foi tanto.                

foto minha, um instantâneo dessa maravilha em 13 de novembro de 2009

quarta-feira, novembro 11, 2009

"que painel o quê, minha filha!"

É fato: morava numa pequena rua no Humaitá e, no verão, todos os dias a luz era cortada precisamente às quatro da manhã ao ser ligado, pela padaria, o forno para assar o pão.  Aquilo era todos os dias.  De nada pareciam adiantar os abaixo-assinados dirigidos à concessionária e preparados pelo diligente síndico do prédio vizinho.  Chegava o homem  brandindo aqueles formulários, sempre esbaforido, não tinha como não assinar e a causa era mesmo justa. Infelizmente, esforço inútil, porque por anos satisfação alguma nos foi dada.  Um dia a luz faltou mais cedo, bem mais cedo, às dez da noite, e estranhei.  Nada de televisão, nada de música, mas, como se sabe, casais jovens não morrem de tédio.  No dia seguinte, às seis da manhã, acordei ainda sem luz e telefonei para reclamar.  Um alô com voz de tédio me fez intuir que não estava diante de alguém motivado no trabalho.  Fui direta: "Está faltando luz na Rua Maria Eugênia desde ontem à noite".  "Ah, é? E onde fica essa rua"?, repondeu o pouco-motivado.  "No Humaitá".  "Pode até ser" - disse ele - " mas não tem nada aqui não.  Eu cheguei agora e não tem nenhum bilhete por aqui".  "Bilhete?" - perguntei, surpresa - "Mas moço, não existe um painel à sua frente piscando onde falta luz na cidade??", ao que me respondeu: "Que painel o quê, minha filha...".  Meia hora depois a luz voltou, e pensei que provavelmente apenas eu havia comunicado o fato.  O síndico devia estar fora da cidade e, como toda a rua contava com sua extrema diligência, ninguém fez nada.  Tempos depois o vi na esquina da rua Humaitá, numa quarta-feira, dia de feira livre na Maria Eugênia, e percebi que, rodeado de mulheres, assistiam todos a troca do famigerado transformador.  Pensei que as preces da rua inteira haviam sido ouvidas, já que dos abaixo-assinados se desistira há muito tempo.
Lembrei da rua que no verão faltava luz a partir das quatro da manhã, da noite inteira sem luz e sem que ninguém reclamasse, do tal painel estilo jetson que minha vã filosofia imaginava existente, do fora que levei do atendente, da troca do transformador em pleno dia de feira livre.  Pensei nisso tudo ontem durante o apagão.  O síndico deve ter ficado indignado.     

segunda-feira, novembro 02, 2009

a jardineira fiel



Nada como um jardim.  O meu é mínimo, mas o amo de paixão.  Cuido, cuido... As bromélias floriram todas, várias orquídeas ameaçam florir também.  Que me desculpe o Nando Reis: ele poderia fazer tudo por mim, menos cuidar do meu jardim.  Dele cuido eu.