domingo, dezembro 18, 2011

o shopping e a colônia rastro

Bendita chuva a de ontem.  Tinha hora no cabeleireiro e pensei que iria penar com a multidão a circular pelo shopping da Gávea no último fim de semana antes do Natal.  Nada como uma pancada d'água para deixar o carioca em casa, os corredores tinham lá uma meia dúzia de duas ou três pessoas.  Que maravilha!  Cortei o cabelo, comprei uma sandália de salto baixo (uma raridade encontrar um calçado cujo salto não é alto nem rasteiro) e, andando por lá e acolá,  pensei nessa miríade de opções de compras de hoje em oposição às duas únicas opções de presente que antes existiam ao se receber, num sábado, um convite de aniversário de última hora.  O comércio fechava à uma da tarde e só era possível comprar uma colônia Rastro na farmácia (farmácia de antigamente era uma coisa pobrinha), ou um disco; mas disco (vinil), só até às três da tarde, porque depois disso a loja da Teixeira de Mello fechava.  Comprei muitas colônias Rastro.  Era um ótimo presente.  O embrulho, um caso à parte - o papel muitas vezes dobrado de um lado com um aplique de fita, que, para ficar curva, era bastante debastada com a tesoura (comerciários tinham que saber embrulhar para presente).  Vi que a colônia mudou sua embalagem tão linda e elegante de antigamente.  Aliás, tudo mudou.  Ontem, depois de uma super-praia de verão estranhamente vazia, no úiltimo fim de semana antes do Natal, circulando tranquila num shopping, pude vagar meu pensamento, que deu de aportar na rara opção de presente de última hora que tive durante anos - no século passado e na era pré-shopping.

foto clicada no Espaço do Perfume em SP e capturada aqui, um post delicioso sobre a colônia.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

o pier de ipanema que eu conheci


Meus avós moravam na Praia de Ipanema e me lembro muito bem da oposição que meu avô fez ao indigitado emissário.  Ele, um carioca nato e praticante diário de frescobol, não concebia sua querida praia afogada no esgoto que seria atirado ao mar sem nenhum tratamento prévio.  Sim, o que hoje parece óbvio à época não era, tanto que o emissário lá está até hoje regurgitando porcaria (quando chove intensamente em pouco tempo as línguas negras aparecem volumosas em questão de minutos).  Meu avô engendrou uma briga ferrenha pela imprensa com a Cedae e fez um diário das condições do mar que avistava da varanda de seu apartamento.  É curioso que se fale agora que o píer ficava em frente à rua Farme de Amoedo.  A foto está aí para provar que ficava muito mais perto da Teixeira de Mello: clicada do prédio 192, onde meus avós moravam no sexto andar, lá está o píer à esquerda.  A Farme de Amoedo, na história da praia de Ipanema, é outra coisa: anos mais tarde viria a ser ponto gay (muito tempo depois, aliás). Também acho curiosa essa expressão "dunas da Gal" que agora dizem que identificava aquele local. Tudo bem que eu era pré-adolescente, mas as dunas ficaram lá por um bom tempo e nunca, nunca mesmo ouvi ninguém da minha família, ou seus amigos, ou os meus amigos, dizerem que frequentavam as "dunas da Gal". Dizia-se apenas que se ia a praia no "pier". Deve ser aquela velha coisa de quem conta um conto, aumenta um ponto.  Ou talvez haja uma certa dificuldade em colocar as coisas em perspectiva.

p.s. a foto é do Jornal O Globo, clicada à época da construção do píer e publicada no jornal, quando meu avô deu uma entrevista sobre o absurdo do emissário.

vovô e o pier


foto do Jornal O Globo clicada à mesma época da postada acima.  Esta não foi publicada.