quarta-feira, abril 30, 2008

isso de olhar a lua

Este mês de abril já vai tarde. Pensando bem, não é um bom mês, historicamente é dito o mês dos resfriados e da declaração do imposto de renda. Este abril, em particular, foi muito estranho. Não fiquei resfriada, porém não me consolou pensar que deveria me dar por satisfeita por não ter pego dengue. Da declaração de imposto de renda, porém, não escapei. Quem escapa?
Peguei total implicância com abril. É estranho isso de implicar, nem sempre faz sentido, eu deveria gostar de abril, é o início do outono e adoro o outono - a luz fica mais sutil, menos amarela, ao olhar o mar se vê o horizonte bem definido, o céu num azul um pouco mais claro do que o tom "azul noturno" do mar. É como se o Rio deixasse de ser um quadro de Gauguin em sua fase tahitiana, com seus tons amarelados e alaranjados, e ganhasse uma paleta mais suave. Os dias em abril também ficam mais frescos, o sol, mais ameno, a praia, quase vazia.
Chato ter pego implicância. Mas é que este abril em particular, além de dengue e da famigerada declaração, conseguiu o terrível feito de reunir duas tragédias marcadas por estranhas crueldades, ambas igual e massivamente noticiadas pelas mídias locais. E esta crueldade toda fez com que tanto no Brasil quanto na Áustria tenha havido o mesmo efeito aterrador que o ato de se confrontar com os elásticos limites da crueldade humana causa.
Li há pouco que os meninos austríacos (do algoz filhos e netos ao mesmo tempo), antes prisioneiros e agora libertos, viram finalmente o mundo pela primeira vez. Tudo os impressionou, em particular a lua. Encantaram-se ao olhar a lua, nunca a haviam visto. Foram, por anos, privados de olhar o céu, algo tão fundamental.
Que bom que este mês de abril acabou! E que bom que a lua em maio é sempre linda.