segunda-feira, setembro 05, 2011

uma carta para ruth bueno

Eu não te conheci pessoalmente, Ruth, apenas através dos livros teus, e um deles minha mãe sempre disse que era encharcado de saudade e poesia, aquele parte escrito em francês e parte em português. Também meu pai dizia que te dava carona sempre, vcs trabalharam juntos anos a fio, e quando vc adoeceu, disso lembro bem porque já era adolescente, meus pais foram te buscar no aeroporto. Hoje num sebo encontrei um livro seu (o tal parte em francês, parte em português) elegantíssimo em sua capa preta, dedicado a um velho amigo José Antonio e por vc assinado. Calculo que vc usasse uma caneta tinteiro. Calculo também que cada linha deste livro "Cartas para um Monge" tenha sido fruto de algum sofrimento e, sobretudo, da imensa saudade de um bem-querer muito especial que morava longe e que te era proibido. Quem vai entender? Parece que nem vocês dois entendiam, mas souberam bem censurar-se à vista do que aquela afeição poderia causar ao mundo. Não hesitei quando meus dedos, ao percorrerem aquelas lombadas de livros usados, pararam alertas diante do teu livro: paguei o preço pedido - barato para uma preciosidade, caro para seu mau estado - e saí da loja feliz, com a sensação de certeza que uma boa leitura me traz. É sempre assim diante de um bom livro, e esse hoje veio inesperado.

"Perguntei à rosa-rosa se me querias. Perguntei à rosa-rosa se virias. Perguntei à rosa-rosa se pensas em mim. E a tua rosa presa de silêncio, deu-me em resposta o teu silêncio, aquele mesmo em que te abrigas, há tanto tempo, de onde estás - e onde estás? -, tão longe, em distância que beira o infinito."

("Cartas para um Monge", Ruth Bueno, RJ, 1967. "Este livro é uma saudade", diz a autora no prólogo)


imagem capturada no google