Singrei o Aterro do Flamengo hoje mais uma vez debaixo de chuva. Só pode ser essa insistência úmida a me melar o humor, a me deixar nessa zona grísea de indigestão espiritual. Mais uma vez acordo com o sol à espreita e vou me deitar sob um chuvisco insistente. Que saco! Essas coisas têm um efeito deletério sobre a gente. Por exemplo: nunca mais vi aquele deus grego, aquele que corre na pista do aterro com seu cachorro todo dia por volta das nove e quinze da manhã, um corpo esculpido em tudo e por tudo à semelhança do Criador. Que maravilha da natureza - e que natureza! Um impávido colosso. Pois desde que chove desse jeito a criatura sumiu. Ele e seu cachorro abandonaram o exercício matinal e deixaram minhas retinas viúvas daquela visão do paraíso. Pergunto aos quatro ventos: cadê o gato do cachorro? Cadê?
foto de Ernesto Martins