É saudade e saciedade
da ausência nossa
e episódica presença
tudo o que nos vem por consequência
da nossa própria inconsequência
(talvez tardia e reiterada adolescência?)
Uma coisa sem dúvida rara
e certamente densa,
que todavia se fez do nada.
Será o permitir-se uma autoindulgência?
Quem sabe é a descoberta
do tal mágico instante
- o instante que a si se basta -
pelos deuses de tempos em tempos ofertado
ao mortal assim resignado,
ao que no arco da vida
segue já em sua inflexão
(talvez um quê de transgressão?)
Somos nós: apenas nós
dando-nos um ao outro
o melhor de nós dois.
Somos nós, enfim: os que
ousam se despudorar,
os que se querem
- sobretudo se sabem -
bárbaros, divinos pagãos.