quarta-feira, maio 02, 2018

pagãos

É saudade e saciedade
da ausência nossa
e episódica presença
tudo o que nos vem por consequência
da nossa própria inconsequência

(talvez tardia e reiterada adolescência?)


Uma coisa sem dúvida rara

e certamente densa,
que todavia se fez do nada.
Será o permitir-se uma autoindulgência?

Quem sabe é a descoberta

do tal mágico instante
- o instante que a si se basta - 
pelos deuses de tempos em tempos ofertado
ao mortal assim resignado,
ao que no arco da vida
segue já em sua inflexão

(talvez um quê de transgressão?)


Somos nós: apenas nós

dando-nos um ao outro
o melhor de nós dois.
Somos nós, enfim: os que
ousam se despudorar,
os que se querem
- sobretudo se sabem - 
bárbaros, divinos pagãos.

Um comentário:

J Alexandre Sartorelli disse...

Poema narrativo, fluente no encadeamento das idéias.
Questões bem colocadas.
Bela estrofe conclusiva