quarta-feira, dezembro 30, 2009

fim de festa

Se é verdade que o ano passa rápido, é também verdade que o fim de ano custa muito a passar.  Dentre os vários eventos e almoços e confraternizações e coquetéis a que fui - e não é apenas porque devo, mas também porque quero, mas de toda forma devo - conto uns vinte, sem exagero.  Aquelas pessoas que pouco te viram o ano todo (e porquê?) , os que aniversariam em dezembro e que, por isso mesmo, fazem questão de sua comemoração particular (compreensível), e todas as pendências que o trabalho não pode deixar virarem o ano (é quase uma verdade universal este fato) clamam por sua presença e ação.  Além do mais, há muita coisa para lembrar - os cartões (ainda mando alguns pelo correio), os presentes (os de última hora, os piores), os e-mails, os telefonemas...  Fazer o quê? Me parece aquele fim de festa em que fica todo mundo esperando o sinal que levará meia dúzia final de sobreviventes de si mesmos a irem embora, com a sutil diferença de, na virada do ano, não ser preciso sinal algum para nada - o ano novo virá de toda forma.  Pois venha logo, 2010!

quinta-feira, dezembro 24, 2009

à la une!

Vire seu olhar um pouco a leste e veja porque o Le Monde considerou Lula um homem... do mundo.

bem-aventuranças



bem-aventurados os despossuídos, porque deles é o sono dos justos;
bem-aventuradas as crianças, sobretudo as que neste natal ainda acreditam em papai noel;
bem-aventurada a consanguineidade;
e os amigos, a consanguineidade do afeto;
bem-aventurados os trabalhadores que fazem a máquina do mundo girar;
bem-aventuradas as aventuras bem vividas;

e bem-aventurada a criança pobre que nasceu há mais de dois mil anos para trazer esperança,
porque sem esperança nenhum coração sobrevive.

foto de Ernesto Martins


segunda-feira, dezembro 14, 2009

drama italiano


Não precisa muito esforço para perceber que o italiano é o ser mais  hiperbólico de todos os latinos. Tudo nele é exagerado: o amor de mãe e filho, as brigas entre os irmãos, o comer, o gostar.  Aliás, não se gosta ou se desgosta de alguém ou alguma coisa, se ama ou se odeia, e no limite de cada vértice.  Lembro muito bem da minha vó filha de italianos que declarava "ter paixão" ou "ter horror" no lugar de simplesmente dizer "gosto" ou "não gosto". A minha sogra nem pergunto mais se vai bem, e sim se está melhorzinha de saúde.  Nunca está, e desfia um rosário de reclamações com riqueza de detalhes sobre os tratamentos a que se submete.  É curioso pensar que um canastrão como o fotografado tem apoio popular; porém, em se tratando de um político italiano, calculo deva ter tanto apoio quanto rejeição.  Coitado!  Desmanchou até o penteado.

foto capturada na Internet

sábado, dezembro 12, 2009

nos anos 2000

Não pretendo fazer balanço da década, não tenho competência para isso, e também ainda não está realmente completa.  Além do mais, minha memória mudou: se antes fui qualificada por um amigo como um "catálogo ambulante" porque me lembrava de tudo e nenhum detalhe me escapava, agora já não é bem assim.  É estranha a memória, há detalhes e pessoas e fatos de que me lembro quase que cinematograficamente, e há coisas que parecem que me foram lavadas da massa cinzenta.  Química cerebral alterada? Tico e Teco já funcionaram a pleno vapor, mas me acalmou meu professor de yoga ao dizer que depois dos quarenta, para funcionarem bem, só pegando no tranco com as posições invertidas, e lá vou eu ficar de cabeça para baixo...  Pensar em falar sobre os nove anos desta primeira década dos 2000 até que me desafia, mas não sou pretensiosa.  Dizer também que entrar em 2010 me parece algo tresloucado porque ontem mesmo estranhei escrever "2000" é chover no molhado, não há ser vivente sobre a Terra que não diga que o tempo passa muito mais rápido do que antes.  O fato é que os 2000 vieram após a esquisitice e cafonice estética dos anos 80 e do minimalismo quase espartano dos 90 e fizeram do mundo um lugar muito menor e muito mais perigoso, e que, polêmicas à parte, evidenciaram o que antes já se intuia sobre o clima, porque o tempo mudou, não há dúvida.  Nos 2000, a instantaneidade e exposição proporcionadas pela web, a aproximação das pessoas, as relações virtuais.  O telefone celular e seus prós (adolescentes ligam diretamente para seus namorados sem passar pela sogra, que maravilha!) e contras (será que nunca mais terei paz?) igualmente mudaram padrões e me fazem pensar que a tecnologia é como advogados - um mal necessário - depois que se incorpora à vida das pessoas não se vive mais sem.  Entro em 2010 lembrando que quando criança pensava que nos 2000 estaria trafegando em foguetinhos e à beira da decrepitude.  Valeu pela lembrança, Tico e Teco, mas me alivia perceber que, embora persista estranhando muita coisa, não será bem assim quanto à decrepitude, ainda que tenha que continuar jurassicamente me deslocando sobre rodas e dirigindo num trânsito histérico.  Que venha 2010.  E feliz ano novo!