O luto é estranho, mas que não o estranhe - todo mundo passa por ele. É uma tristeza que fica lá, à espreita, subjacente a todos os momentos do dia e, quando uma lembrança espoucar na mente, artimanha da memória talvez sádica, talvez aleatória, mas sempre necessária, o coração vai doer, e talvez venha uma lágrima, ou talvez venham muitas, e nem sempre vai ser possível disfarçar.
Quando acharem que vc está bem, será quando você estará pior, porque ali o esforço para prosseguir estará sendo enorme.
O tempo muda no luto - ou a percepção dele. Ficam os dias morosos, enquanto as semanas voam.
O luto é sólido na dor, líquido nas lembranças, gasoso no que se esvai. É um estado da matéria tanto quanto um estado da alma.
Todo luto tem também um pouco dos lutos precedentes. Mas quem se acostuma com a dor?
O luto é estar nas mãos de Deus, sentir-se ligado ao que os olhos não enxergam e ao que o coração não duvida.
O luto é o encontro do inevitável, da sina de todo ser vivente sobre a Terra, a reafirmar que a vida é aqui, agora, nos encontros que vamos tendo, casuais ou não.
O luto é um divisor de águas - os que estiveram e estão por perto, os que preferem não se envolver. Ele é solitário como toda dor, mas não precisa ser um abandono.
E, o peito doendo, quando menos se esperar, uma alegria vai teimar em aparecer, porque a alegria dos entristecidos é até mais alegre.
O resto, é o tempo.
Na foto, meu pai, já no fim da vida, mas ainda não doente. Ele havia se encontrado com uma amiga minha na rua casualmente e ela fez esse registro, que é bem a expressão dele.