Mais uma teoria minha, ainda que a humanidade não mereça. Fim de ano é a época em que todo mundo fica mais acentuado no que já é. Os alegres ficam alegríssimos, os consumistas se esbaldam, os tristes ficam a um passo de cortar os pulsos, os blasées andam solenemente para as comemorações, os deselegantes aproveitam para não agradecer as gentilezas e atenções que receberam ao longo do ano, os desconfiados desconfiam até dos presentes que receberam, os espiritualizados se iluminam e etc. É sempre assim, o que me leva a crer que é preciso ter paciência para transigir com a característica de cada qual e, como não tenho muita, já é de praxe renovar meus votos de melhorar no ano seguinte. Mas é que essa hipérbole toda francamente me enche o saco. Se foi um bom ano? Foi. Sempre agradeço o que tive de bom, de delicado e especial, do deletério de que me livrei, de ter tido saúde, e trabalho, e coragem, e também das boas surpresas que a vida sempre me traz. O senão dessa época é essa canícula que assola este pedaço dos trópicos, embora nem isso chegue propriamente a estragar a coisa toda: os cheiros do início do verão são os mesmos desde que, criança, entrava de férias, e é algo tão táctil que facilmente me transporta. Aos que aqui chegam por acaso e para os que volta e meia dão com os costados neste canto da minha quietude, um Natal hiperbolicamente na paz e um ano novo hiperbolicamente bacana!
p.s. esqueci de dizer que os carentes ficam ainda mais carentes. E também que todos ficamos meio carentes.
foto de Ernesto Martins