quarta-feira, outubro 17, 2007

o efeito-chimpanzé


Em nada me admirou saber que 98% de minha informação genética coincidem com a de um chimpanzé. Ora, se coincidem em 80% com a de um porco, nada mais justo. Fico divagando em quanto será a coincidência com uma vaca, visto sentir-me assim amiúde uma vez por mês. Parece que não importa, somos todos mamíferos e a minha experiência com cães já demonstrou que há um denominador comum em termos de mazelas dos seres viventes sobre a Terra. O meu cão, por exemplo, é epilético, cardiopata e recentemente ficou diabético por causa da idade (tem doze anos), o que o levou à catarata, da qual se operou de uma vista e voltou a enxergar. Como nos humanos, uma coisa puxa a outra. Depois me ocorreu essa história de Mônica Veloso, a jornalista que se deitou com Renan Calheiros (tem gosto para tudo) e que, deste leito, gerou uma filha. Pensei furiosamente no efeito-chimpanzé e nos descobri sendo todos reféns deste determinismo genético. Não é um conceito difícil de apreender. As mães ensinam as filhas; os pais, os filhos; as amigas e colegas da escola, umas as outras; os professores aos alunos e etc. Não há criança que queira ser diferente da outra; antes, se querem rigorosamente iguais, em tudo e por tudo, o que uma tem a outra vai querer também. Isso é idêntico no comportamento mais sutil, o que revela que uma atitude é mais do que fruto do “compre isso, consuma aquilo”. Este efeito-chimpanzé explica até o fenômeno da moda e como é fácil aos marqueteiros ganharem a vida. Não é complicado induzir alguém a se comportar como outrem, basta o simples argumento de que alguém já se comportou de tal maneira antes. Nestas sutilezas sobre a moda, aliás, observei que há modismos a grassar em ambientes mais recolhidos, em sub-grupos. Já vi no foro, num dia de chuva, umas duas dúzias de pares de botas parecidíssimas calçadas por advogadas e estagiárias, o que diferia um pouco em termos de estatística com o resto da cidade – botas não eram o último grito naquele outono, mas parecia que ali, naquele reduto, o eram. Ah, sim, a peladona do momento e o efeito-chimpanzé. Deve o desnudar-se de uma jornalista algo valorosa ter sido por ele causado. Virou moda, qualquer pessoa que tenha ganho notoriedade, não importa o porquê, interessa a este específico segmento do mercado editorial, há uma imensa curiosidade em ver nua a mulher-potin do momento. Não me surpreende, um amigo muito sábio e já bem veterano nesta vida uma vez me disse, embalado pela sabedoria que duas doses de destilado lhe conferem, que “tarado é alguém normal pego em flagrante”. Vai ver que sequer de sua autoria é a frase, mas que é sábia, lá isso é. Enfim, é tão-somente uma macaquice capturada pelo mercado. Dizer assim seria um reducionismo impróprio? É possível. Porém, é redentor. Qualquer coisa idiota que um dia venha a fazer, estarei sob o manto do efeito-chimpanzé, do qual dificilmente algum mortal escapa. Mas que não me entendam mal: certamente não interessaria às revistas masculinas nua. Se bem que para este “específico segmento editorial” até que eu poderia escrever umas historinhas interessantes...

6 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do "efeito-chimpanzé" pelo simples fato de numca ter visto um chimpanzé fêmea vestido.
Agora só falta te conhecer pessoalmente (ou seria "simiamente" ?)
Ti peguei, macaquinha linda.
Rsrsrs.
Strix.

Anônimo disse...

Denise, gostei muito da sua "crônica". Ainda ontem discutíamos sobre isso de moda, costumes, padrões que nos são impostos ou aceitamos. Com sua licença vou imprimi-la para que outros a leiam.

"...embalado pela sabedoria que duas doses de destilado lhe conferem, que “tarado é alguém normal pego em flagrante”. Vai ver que sequer de sua..."

Acho que não é mesmo não, Denise, eu vi essa frase no Cruzeiro, na seção Pip-Paf, de Vão Gogo, o Millor Fernandes, lá pelos idos de 1950 e muita coisa, mas que é otima é.
Parabéns pelo post, e ótimo final de semana.
Bj

Denise S. disse...

Adelino, eu desconfiava. E saber que é do Millôr é algo que cai mto bem, pois ele é um grande frasista.
bjs

Anônimo disse...

Eu acho que somos "produção em massa", geralmente. Tantas idênticas à personagem tal da novela, e tantos se sentando ao redor dos iguais tornando a vida um grande happy hour, bem como também na novela.

CrissMyAss disse...

Outro dia fui provar um vestido e a vendedora: "esse vestido vendeu muito depois que a Guilhermina Guinle apareceu com ele na novela". Eu: "minha filha, pra mim Guilhermina Guinle é uma rua em Botafogo".
Fui taxada de alienada por não saber que ela é dublê de socialaite e atriz global.
"É linda. Sabe aquelas mulheres que tem cara de fina, bem-nascida?"
No dia seguinte leio na internet: "Guilhermina Guile posa nua na Playboy." Chiquérrima!!

Anônimo disse...

Denise, com sua permissão:

CRISS, algo semelhante aconteceu comigo, claro que nada a ver com experimentar vestido, veja lá.

Um dia, num aniversário em nossa casa, eu coloquei para tocar uma música lindíssima, meio antigona já. Uma letra maravihosa. Tudo bem. Uma senhora se aproximou de mim e disse:
- Essa música é do Francisco Cuoco.
Eu, meio sarcástico:
- Francisco Cuoco por acaso é compositor?
- Não - ela respondeu. Mas é a música que toca quando ele aparece na novela...

(PANO ULTRA-RÁPIDO)
Abraços