quinta-feira, setembro 21, 2006

o português, este destratado

ou " as pérolas atuais do vernáculo":

Na verdade...
(algumas pessoas iniciam 99% de suas frases com esta expressão);

Na verdade, o que que acontece...
(ligeiro acréscimo à expressão acima, empregado com a mesma intensidade da anterior);
O que que acontece...; e

A fulana, ela viajou...
(aqui eu me pergunto qual a razão desta sofisticação, já que separar o sujeito do predicado por vírgula, salvo em alguns casos, é errado. Nesta hipótese, ainda há a afetação do pronome após a vírgula. Agora me digam: para que serve a vírgula? e o pronome? seria "a fulana viajou" muito simplório?)

Não faz muito tempo vi uma atriz sendo entrevistada por uma pitonisa do jornalismo televisivo e, lamentavelmente, constatei que ela mal conseguia falar: seu vocabulário era de uma criança de 7 anos, no máximo.

E, vendo um programa popular da televisão norte-americana, observei que os entrevistados, pessoas comuns, não raro referidos como "povo ignorante" pelo resto da humanidade, manejam sua língua mil vezes melhor do que o faz a quintessência da elite brasileira.

Não me conformo. E não compreendo.

23 comentários:

Frederico disse...

Hum... adorei o tema. Bom, dito assim "A Denise, ela viajou"... lembra o vocativo, tipo "amor, cheguei!". Realmente "A Denise, ela viajou" soa como um discurso amarrado, sem vontade de dizer. Mas será que não seria "A Denise... ela viajou." ? Quanto à elite brasileira... ah, Denise (!)... esse termo engloba um grupo muito heterogêneo. Comumente equipara-se "elite" à quantidade de cifrões no patrimônio da criatura. A elite intelectual decerto que maneja bem a última flor do lácio. De resto, é isso: um povo (todos nós) com mil carências, utilizando uma língua sofisticada.

CrissMyAss disse...

Denise, viajou!!! (brincadeirinha!)
Ainda bem que ainda há neste país pessoas que procuram cultivar o bom português.
O Fred é assim, outro dia ainda me deu uma "catucada"... mas também procuro ter este cuidado, a despeito do meu vocabulário chulo.

Esse "na verdade" é pavoroso. Ele implica em:
- ou o que a pessoa havia dito antes era mentira,
- ou a pessoa tem um baita complexo de Jesus Cristo:
"Na verdade, na verdade vos digo, aquela carioca que conseguir dizer uma frase ao telefone sem começar com "olha só.." herdará o reino dos céus!"

Denise S. disse...

Fred, é assim: "O Fred, ele é um ótimo rapaz, muito trabalhador...". Agora, diga: "O Fred é um ótimo rapaz" já não bastaria?
Cris, 'na verdade', o "olha só" carioca está para o "então" paulistano. Hum, prefiro o "olha só". E odeio "veja bem".
Coitado do português, tão destratado, ainda por cima casou-se com uma bigoduda.

Denise S. disse...

Fred, só mais uma coisa: não acho que nós, brasileiros, elite ou não, falemos bem o português. Acho que falamos mto mal e isso tem uma conseqüência no pensar. Falamos mal, pensamos mal.
A atriz a que me referi me deixou pasma, tamanha ignorância.

CrissMyAss disse...

O "então" do paulista é um baita italianismo, um arremedo do "dunque" com que muitos italianos começam as frases.
Ô povinho prolixo aquele, aliás. Mas bem articulado, sem dúvida.
Na verdade (hehehe) ainda prefiro o "então" ao "olha sóah".
E se você não gosta do "veja bem" -o qual até já mereceu post lá no blogue, precisaria conhecer um cara que diz "VEJE bem".
Quer, te apresento, que tal?

Denise S. disse...

Cris, quem é bem articulado? o povo italiano? se for, concordo; já os paulistas, acho que caem na vala comum da 'quasi-indigência' vocabular nacional.
Sim, apresente-me o "veje bem": ato contínuo, ele incorporará ao seu vocabulário o imperativo direitinho. Mas não que eu vá censurá-lo...
p.s. eu postei neste seu post sobre o "veja bem".

Frederico disse...

Vocês duas, moças, se conhecem a nível de pessoalmente ?!?

Denise S. disse...

a nível de pessoalmente ainda não, Fred.
se bem que essa coisa virtual faz as vezes de um 'a nível de'.

Frederico disse...

:-)
Em outra era geológica eu tinha uma boa amiga que vinha com um "tipo assim, a nível de de repente". Caramba e você não sabe... o gerente da minha conta do banco real é bacana, simpático e - até onde sei - competente. Mas diz "rúbrica". Ah meu deus...

Denise S. disse...

"Rúbrica" é um clássico.
Então, vamos lá, vamos destratar mesmo o marido da bigoduda:
"o gerente do banco real onde o Fred tem conta, ele fala rúbrica". Ai, meus sais!

Ricardo Rayol disse...

Será por que o português tem milhares de sutilezas que o inglês não tem? Ou ainda, que a educação dada em escolas, inclusive pagas, é precária demais para ensinar o corretismo linguistico?

Anônimo disse...

Meu pai sempre disse q o Vinícius dizia "que seje infinito enquanto dure...." mas ainda não tive a oportunidade de escutar e prestar atenção p saber se ele diz mesmo o tal SEJE...ou trata se de uma elisão ("sejinfinito.." )...alguém tem a gravação p confirmar??

Frederico disse...

Poizé... "Então"...semana passada eu estava assinando uma papelada por lá e ele "aqui só a rúbrica"... hummmm, dói... (e me dá uma vontade de consertar; mas será que o sujeito não tem ninguém íntimo o bastante para isso? a nível de família?!?!) :-)

Frederico disse...

"que seje infinito" eu acho que não existe. Mas "posto que é chama" está errado na norma culta da língua. "Posto que" significa "embora", o contrário de "visto que". Mas é aquilo, licenças poéticas que só os grandes obtêm. No Aurélio, por exemplo, temos "fazia-lhe a mãe grandes elogios, e eram fundados, posto fossem de mãe.", ou seja "eram fundados, embora fossem elogios maternos". ;-)

Anônimo disse...

Frederico..vc tem razão..nunca havia pensado nisso.Eu sempre li "posto que e' " como se fosse "visto que"...

CrissMyAss disse...

tem certeza, Freds?
Pensei que "posto que" queria dizer "uma vez que", "visto que", "já que".
O que, aliás, faz mais sentido, "posto que" ao menos, parece algo que está estabelecido, que se tem por certo.

Logo o Vinícius iria errar uma coisa dessas?

Em que gramática você viu isso, e qual a explicação que eles dão?
bjs

Luis Eduardo Neves disse...

VERNÁCULO

Se o jovem hoje fala muito errado,
muito pior faz quando escreve carta...
Manda o Aurélio pro raio que o parta,
e o tal de Aulete nunca é consultado.

Acentuação na nossa língua é farta,
por isso mesmo bota-se de lado.
Sujeito, complemento, predicado...
entram em briga que ninguém aparta.

As diferenças entre o mau e o mal,
o sobre e o sob, além do caça e cassa...
só servem pra chatear o pessoal.

Basta botar cedilha na cachaça
mais um h inútil no hospital
que no vestibular o jovem passa...

Denise S. disse...

Bravo, Nevão!

Luis Eduardo Neves disse...

Pior é que o Poetinha poderia ter usado "visto" em lugar de "posto", visto que tem igual número de sílabas.
Mas isso não é nada. Lembremo-nos de "Você não me ensinou a te esquecer" e de outras barbaridades do gênero. Não doem muito mais?

Anônimo disse...

Desconfio que o "na verdade" tenha relação com o "actually" do inglês.

Denise S. disse...

anônimo, certamente há esta relação. O que me admira é que há pessoas que começam praticamente TODAS as suas frases com esta expressão "na verdade". Um verdadeiro cacoete.
E isso (actually) me fez lembrar uma publicidade de um uísque nacional que passava na televisão, há muito tempo atrás, e que era protagonizada por um campeão de tênis daquela época: a tradução de "actually" virou "atualmente". Dizia então o campeão: "atualmente eu não bebo muito", parecendo dizer que, um dia, havia tido sérios problemas com o álcool.

Anônimo disse...

Dedé...tava visitando seu bloguinho e relendo estes comentários.Ao ler seu último,um absurdo de tradução(pra não dizer outra coisa!),lembrei me de 3 traduções feitas em legendas que deram outro sentido ou algum PIOR a frase em inglês.
O primeiro foi no filme "Mensagem Para Voce".Meg Ryan pergunta p o Tom Hanks como ela deveria agir c o inimigo que inaugurara uma mega Barnes and Nobles bem em frente a sua linda lojinha de livros.Ele respondeu em inglês :"just bring him to the matress"(leve o ao tatame...(para a briga!) e a tradução foi "Leve o para o colchão.." parecendo que ele a aconselhava a leva lo para a cama!!..
A segunda foi um completo absurdo.Minha filha via a MTV,uma entrevista c um grupo de rock.O rapaz dizia "when you once get an "A" is dificult to keep it over and over.." (queria dizer mais ou menos que qd vc tira um A é dificil manter se assim no mercado musical..) e eles traduziram :Quando voce pega AIDS é dificil se manter no mercado...
TREMENDA HEIM???
E a última foi a que vimos ontem no filme "Um Bom Ano"...a secretária diz ao chefe "listen to mammy fulano etc etc..." e a tradução foi "Ouça aqui fulano MÚMIA..."...
Dá pra acreditar????
Bjusss

Denise S. disse...

Nossa, Roberta! De matar, heim!