sábado, outubro 28, 2006

... e o jornalista não quis me conhecer

Não houve jeito, bem que eu tentei. Acreditava em afinidades descobertas de formas inusitadas, e como não havia jamais trafegado neste universo bloguiano, pensei why not? Afinidades encontram-se por si próprias, não precisam, necessariamente, de seus donos para identificarem-se. Como seres farejadores, teriam elas, à sua própria conta e sorte, se identificado. A nós, apenas restaria render-se a esta realidade para lhe concedermos uma chance de encontro, se é que têm mesmo vida própria.
Mas ele não quis, ainda que eu tenha tentado. Antes disso era engraçado, porque não raro eu pensava em algo e ele escrevia; observava uma novidade interessante ou inóspita, ele apontava; de tal forma essas coincidências se manifestavam que um ser rastejante freqüentador de seu blog, alguém que depois soube ser meu detrator, insinou que éramos a mesma pessoa. Ali naquele estranho universo, onde as identidades parecem se misturar.
E o cara é de 70, geração com quem, por razão que não me ocorre, tenho muitas coisas em comum. Oscilo entre ter nascido um pouco antes da época ou estar um pouco atrasada em minha, digamos, evolução. Não sei, tampouco quero saber, mas o certo é que os nascidos em 70 têm em mim uma admiradora e alma afim. Aliás, isso de ser ele mais novo me parecia muito bom: nunca olhei para alguém mais novo do que eu como alguém factível para um romance comigo, e não era nem de longe romance o que eu queria com ele, porque, de resto, estou muito bem como estou e com quem estou. Não era nada disso e ele sabia.
Ah, é verdade, o e-mail. Mandei-lhe um em que o convidava para um café e no qual reiterava a afinidade nossa, algo a que talvez não tivesse atinado. De um jeito meio atravessado, porém direto, esclareci que não pensasse haver qualquer flerte meu. Dele tive como resposta a informação de que andava atarefadíssimo, escrevia uma sinopse e que em seguida entraria de férias. Disse de forma amigável e simpática que eu aguardasse.
Eu aguardei e nada, o que me conduziu a um “e aí?”, forma carioca de perguntar ao interlocutor se está se lembrando daquele compromisso que ficou para quando e se. E aí me disse ele, deslavadamente, que a última coisa que queria na vida era um blind date intelectual, verdadeira porta de entrada para uma sessão de constrangimento e tortura. Sugeriu que se encerrasse a história ali mesmo. Quer dizer, isso não disse assim, mas desta forma foi compreendido. “Pena”, pensei. "Pena".
Porém, a sorte retorceu um pouco as coisas e, ao ler sua última crônica, percebi algo que não antevira antes: é dado a feudos, a "sub-máfia" como alcunhou o que antes se chamava "panelinha", a turma, talvez... séquito. Um abismo entre nós, que sou mais afeita a uma diversidade.
Quer saber? Tant pis.

8 comentários:

Frederico disse...

Sabe, Denise, essa história de nichos, tribos (acho esse termo aplicado a grupos uma bobagem...) e "patotas" (hum, tenho que anotar essa palavrinha para aquele meu texto no prelo) me fez lembrar aquela questão do avião x mega sena. Tem gente que defende que vivemos em "tribos" coesas e que, mais hora menos hora, um fulano "pega" o outro que era do beltrano e que, afinal, todo mundo se conhece porque é um grupo fechado e pequeno (como a história de conhecer alguém do avião que cai). Eu continuo discordando disso, talvez - e aí seu texto me ajudou a ver melhor - porque eu também não viva nesses grupos herméticos desde o final da adolescência. O jornalista, pelo visto, vive. Deixe ele. Vai ver não é nem tão interessante assim.

Denise S. disse...

pois é, Frederico, aquele detalhe que faz toda a diferença...

CrissMyAss disse...

putz!

Ricardo Rayol disse...

Denise, conhecendo um pouco de você pelo que escreve só posso dizer que o sujeito é uma bela duma anta. Nada mais agradável do que tomar um café com pessoas que já entendemos um pouco do que pensam. Uma pena.

Denise S. disse...

Ricardo, pena mesmo senti ao perceber que meu gosto pela diversidade não era algo afim ao jornalista. Fazer o quê?

Frederico disse...

Ricardo, MUITO LONGE de avocar a mim poderes para defender o sujeito - com o qual não nutro simpatia, registre-se - mas “anta” acho que ele não é, pelo menos pelo que ocasionalmente leio dele. Mas é um sujeito - isso sim - com suas peculiares verdades, herméticas também, como seu gosto por “tribos” fechadas (sabia que, por exemplo, ele não gosta de crianças? pois é). Uma besta, portanto, ele não é, mas é um cara... ah... bem diferente, digamos.

Eduardo Lima disse...

Atarefado escrevendo uma sinopse? Deixa ele, a espada de Miguel Arcanjo é longa.

St. Mário disse...

Bem, sobre esse assunto ... tenho algo a dizer:
ele é um cara bacana mas você já deveria ter percebido que ele não é um cara "comum", desses tipos cariocas afetuosos e bonachões. Ele já disse certa vez (você lembra, eu estava lá também, eu fiz a pergunta) que administrar três amigos já é uma tarefa grandiosa ou coisa que o valha e que ele não pretendia com o blog extender sua rede de séquitos. Afinal, cansa, né não! Por isso, me contento em ler, nem sempre comentar e com encontros esporádicos pela burning night. C'est la vie!