(é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração - V. de Moraes)
Havia uma lua absurda. Nem precisava, pois a magia se instalara um pouco antes, quando o FIG decretara que seria naquele exato dia, 14 de junho de 2006, às 20:00 horas, o reencontro da Turma do Isa de 1976. Mas o fato é que lá estava ela, imensa, linda, absurda e majestosa, cobrindo de prata o Arpoador, lugar escolhido por nós precisamente porque, tanto tempo antes, era o nosso lugar.
Trinta anos. Não é exatamente um hiato qualquer, um tempo ao qual se relegue pouca importância, algo que possa ficar quieto no desvão de algum esquecimento. Não. Trinta anos é uma vida, é tempo suficiente para se construir e se destruir e se reconstruir tantas vidas quantas se queiram.
Pois havia a lua e o tempo passado e a iniciativa de um, adensada por outros, encampada por muitos, de estarmos ali, naquele dia, naquele lugar, fosse com algum esforço, ou nenhum, com algum desvario, ou total lucidez, mas de estarmos juntos. E lá estávamos nós, devidamente reconciliados com nossas biografias, trazendo nas mãos e nos corações as lembranças e os esquecimentos que o tempo, mestre dos mestres, invariavelmente oferta.
Foi um presente. Foi alegre, foi puro carinho, foi o mais puro dos afetos, um desses momentos pelos quais a vida vale a pena, que lhe dão um contorno de arte, que nos projeta para a grandeza que sempre existe, embora tantas vezes acabe soterrada pelo turbilhão do cotidiano.
E foi revelador. Sim, revelador. É que, não tendo ido à nossa formatura, a diretora da escola acabou por nos deixar um legado que não existiria se tivesse comparecido àquela formalidade, como lhe convinha, aliás. Para quem não acredita em destino, aí está uma boa razão para se acreditar em ironia do destino.
Deixou-nos ela uma carta aos cuidados da Flávia, que luxuosa e secretamente a guardou por estes anos todos, e ali, lida por Betinha, foi por nós escutada e sorvida com solene silêncio, o único daquela noite de risos e algaravia.
Disse-nos do prazer que a convivência conosco lhe causara naqueles anos todos, do grande desafio que era formar pessoas, e, sobretudo, do imenso amor que envolve a educação de crianças e adolescentes. Falou, reiteradas vezes, do amor. Do amor. Sempre ele, o amor.
No mais, foi alegria, a melhor coisa que existe. Quem mudou, quem está igual, quem faz o quê, por onde andou, quem faltou, quem não se achou, quem se perdeu, quem fez falta, quando vai ser o próximo. Enfim, parodiando o Poeta lá de cima, que sei que me dá licença, se a vida é a arte do encontro, é também - e mais ainda - a arte do reencontro.
Valeu, Turma do Isa!