Lá vem ele se insinuando, aquele insidioso. Aproxima-se lentamente, me olha de esguelha, depois me encara. Fica assim um tempo: me olha como se não me conhecesse, como se quisesse decifrar um estranho, depois segue seu rumo. Não por muito tempo. Volta, flerta comigo com sua autoconfiança irritante, sabe-se um sedutor. Quer me vencer pelo cansaço e temo que consiga. Ai, como me cansa resistir, como me consome esta atitude de permanente guarda sempre que ele aparece. Quanto esgotamento. Perco o sossego, perco o foco, e tenho que me concentrar, tenho coisas para ler, tenho coisas em que pensar, tenho coisas para escrever. Estou ocupada, não percebe? Não posso vadiar. De mim, só quer uma coisa: me ter na cama. Apenas isso, nada além. Não me iludo. E me faz promessas, me abre possibilidades, ele e sua miríade de possibilidades. Safado. Ele e suas tantas oportunidades. Insolente! “Porque não?” diz, sorrindo de soslaio, virando o rosto para novamente me olhar, descansando a vista num ponto em mim que não descubro qual. Digo mais uma vez que não. Entende? É não e não. Preciso resistir. Eu vou resistir.
Mas agora, a essa hora... Ah, cansei, não agüento mais. Reconheço que não tenho mais forças para resistir. Rendo-me. Estou vencida, esgotada, exausta. Morta. Trabalhei muito hoje.
Vamos, Morfeu, vamos. Vamos à cama, já é tarde.
E amanhã acordo cedo.
4 comentários:
Eles fazem mesmo isso com a gente. Mas vale a pena, de vez em quando, render-se às tentações de um canalha desses. É canalha memso ou entendi mal?
Wally, é o sono. É esta a tentação a que me refiro; Morfeu é o deus grego dos sonhos, que fica me convidando para ir prá cama com ele enquanto tento resistir dando cabeçadas em frente à tv ou cochilando com um livro aberto no colo. Ai, meus sais.
Denise, muito bom seu texto! nota 10. Está de parabéns. Moça que surpreende, essa.
Ótimo!!! rsss
Adorei o seu texto!
bjssss
Otto
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