domingo, novembro 07, 2010

pessoas descartáveis, coisas imprescindíveis



Arqueje seu dedo médio e o pressione contra seu polegar, fazendo um círculo.  Depois, solte o dedo médio, o estique bem esticado e estará feito o peteleco.  Sim, é tudo o que é preciso fazer para descartar alguém por quem se perdeu o interesse, a função, cuja presença ficou injustificada na vida.  Estamos em 'tempos líquidos', não será uma descortesia, é o código de conduta em vigor, o que facilita muito a compreensão pelo descartado.  Pode ser que o objeto do peteleco até tenha sido em algum momento uma presença benfazeja, mas agora perdeu o interesse.  Isso, peteleque sem culpa.  Agora pense nas coisas indispensáveis, nos seus must have, naquilo que não dá para passar sem.  É grande a lista? Hum..., é.  Curioso: hoje, sem razão aparente, realizei que pessoas são frequentemente coisificadas e coisas, personificadas.   

p.s. Logo após postar, indagada por uma amiga se descarto amiúde ou se sou descartada, respondi que já descartei, mas por uma causa justificada, porque me vi num relacionamento deletério e/ou maléfico.  Seja como for, jamais descartaria meu pai, ou minha mãe, ou minha irmã, ou meu marido, inobstante dificuldades e pentelhações de toda ordem. 
p.s2. a foto é minha, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro num instantâneo domingo passado.  Nunca havia ficado na galeria, a visão é total e a companhia, animadíssima.  Barishnikov continua uma tremenda presença em cena. 

5 comentários:

Tiago Cruz disse...

Denise,
há uns dois dias estou matutando sobre essa história das pessoas descartáveis e não consego chegar a nenhuma conclusão. Não concordo com essa "instantaneidade" de relacionamentos sejam de que tipo forem. Mas também não concordo com aturar chaturas em geral. Aí...
Tentando explicar: existem vários seres que realmente deveriam ser descartados mas, cadê coragem? Otimista incorrigível, sempre acabo pensando "quem sabe agora vai melhorar?".
E, vida que segue...
Abs,
Tiago.

Denise S. disse...

Tiago, o post fixa um contexto, que tem a ver com a atitute das "pessoas funcionais" (antes se falava interesseiras): enquanto enxergam no outro alguma função, algum interesse, esse outro fará parte de sua vida. Quando acharem que não mais tem função,por qualquer razão, descartam. Chatos não são para ser descartados, não devem sequer entrar na vida da gente. E aqueles cuja presença se tornou malévola, que sejam descartados sem culpa. E obrigada por seu comentário!

Tiago Cruz disse...

"Pessoas funcionais" é ótimo!

Anônimo disse...

Provavelmente não a interessa esse aspecto da questão , mas... nunca lhe ocorreu que um "descartado" poderá depreender , ao ser alvo do peteleco , que o "descartando" jamais foi verdadeiramente seu amigo?

Denise S. disse...

Anônimo, o descartado pode pensar mil coisas, rejeições são difíceis. Pode pensar também que quem o fez, ao fazê-lo, estava na percepção que ele, petelecado, é que jamais foi alguém amigo no petelecando ou que, mesmo que um dia tenha sido, deixou de ser. Posso falar por mim: alguém com quem tenho boa convivência e por quem tenho afeição, um amigo, não descarto.