domingo, junho 27, 2010

sobre corredores e escritores

Admiro os corredores pela ausência de produção: basta-lhes um tênis, uma pista e disposição para se satisfazerem com a enxurrada das endorfinas que a corrida proporciona.  Nada de clubes, equipamentos, gastos ou parceiros.  As pernas, os pés, um par de tênis, o chão e lá vão eles, um leve sorriso estampado ao final da corrida, transpirados e felizes (não corro, apenas caminho, mas um dia chego lá, senão para celebrar a simplicidade desse prazer).  Escrever, acredito, é parecido.  Quando penso que Saramago mal terminou o ginásio, assim como Erico Veríssimo também não, e ambos os grandes escritores que foram (ou são? será que escritores nunca morrem, assim como os sonhos não envelhecem?), tudo parece tão simples: a folha em branco, a caneta, ou o teclado e a tela, uma ideia na cabeça, alguma observação da vida, a vontade e a coragem de maltraçar umas linhas.  Nenhuma sofisticação, nenhum equipamento, nada.  Corredores e escritores não esperam por ninguém, olham para o papel em branco ou para o chão e vão em frente, na certeza que o melhor não é chegar ao fim, mas se dar o prazer e o sofrer do percurso.        

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