E ainda tinha o Jardim Botânico que conheço de cor, onde há lugares que ninguém sequer imagina, lugares de paz e silêncio impensáveis em pleno turbilhão urbano. E também ir ao cinema e conversar sobre o filme, e ir a praia, porque o mar é paixão, e ouvir música em algum lugar, porque música abençoa o dia e embala os pensamentos. E se não teria festas ao luar como o poeta prometeu à sua amada, alguma festa haveria de ter, porque tem sempre alguém que festeja o aniversário e o ano, a cada 365 dias, irrompe em outro novo, e festejar e dançar sempre é bom. Tinha a minha versátil coleção de músicas, muitas músicas, carradas de músicas, e também alguns bons filmes. E tinha também viajar, falar francês, conhecer algum lugar inédito, sentir frio, observar os costumes dos outros, ganhar um ponto de observação longe de casa e de lá pensar na vida que aqui se leva.
E só precisava ter dado alguma liga, a atenção encapsulada em banais sinais de fumaça que hoje chamam de zaps, nada de mais, nada demasiado. Era apenas como soprar um beijo com a mão espalmada na linha do queixo quando a saudade viesse à tona (e ela sempre vinha). Ou alguma tarde livre numa sexta-feira mesmo que fosse para não fazer nada, nada além de jogar conversa fora na varanda e ver e ouvir sorrisos.
E era para ser simples e otimista, porque a vida sorri para os simples e otimistas - e ela nos havia sorrido generosamente. Era para preencher, não para ocupar espaço.
Ainda tinha um bocado de coisa.
p.s. a foto capturei no Instagram
p.s. a foto capturei no Instagram
2 comentários:
um ótima narração.
lembra um poucos as brilhantes crônicas de Rubem Braga
Wuem me dera escrever uma linha como Rubem Braga... Muito obrigada, Alex!
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