Há duas coisas que não se compadecem da pós-modernidade: a caligrafia e a voz. Duas marcas tão pessoais, tão particulares e tão indeléveis que estão se perdendo. São poucas as ligações de telefone; a caligrafia, basicamente, inexiste. No entanto, basta ler uma carta manuscrita que por alguma razão tenha sido guardada, ou um bilhete, ou uma anotação em agenda ou caderneta de telefone para se pressentir a presença de quem manuscreveu. Da mesma forma, a voz, hoje reduzida àquelas pessoas da convivência mais íntima, a um entorno muito apequenado, cedeu a mensagens enviadas via aplicativos. No lugar do calor de uma frase dita, e portanto ouvida, há fotos, mensagens, filmes. Mas nada disso substitui um pequeno bilhete manuscrito ou mesmo a voz de alguém. O mundo digital substituiu muita coisa - mas substituiu muito mal.
De outro lado, há coisas que permanecem - o péssimo nível da política nacional, por exemplo. Na semana que passou, tão bem retratada na coluna de Arthur Xexéo desta semana, viu-se cenas de pugilato no Congresso, como por vezes se vê na Coreia (tenho boa memória), uma carta do vice-presidente à presidente que jamais seria digna de quem ocupa tão elevado cargo na República (algo infantil, do tipo "magoou" ou "estou de mal, come sal, na panela de mingau"), e por fim, mas não por último, uma Ministra de Estado que, numa festa, ao não gostar de ser chamada de namoradeira por um político de escol, não titubeou: redarguiu com veemência e jogou-lhe o vinho que tinha no copo.
Abstraído o inusitado da cena, tenho que admitir: Kátia Abreu, quem diria, você é das minhas - gosta de tudo bem a vera.
Abstraído o inusitado da cena, tenho que admitir: Kátia Abreu, quem diria, você é das minhas - gosta de tudo bem a vera.
4 comentários:
Muito bom, Denise. passei aqui e apreciei. Pena que não é manuscrito. Minha caligrafia, por causa disso, nem eu reconheço mais...
Grande abraço
Cláudio, que bom que gostou! Eu lembro muito bem de sua caligrafia...
E eu da sua, Denise. Uma letra firme, rápida , cheia da sua personalidade. Também reconheço quando vejo. Pena termos perdido o contato pessoal. mas tudo tem seu lado bom e quando nos reencontrarmos haverá muita coisa acumulada para falarmos. Se e quando acontecer será muito bom.
Não conheço a caligrafia de nenhum dos dois mas, pelo descritivo, parecem ser de qualidade.
O que me preocupa mais é a ausência da voz.
Um carinhoso 'filha-da-puta' - escrito - pode ser interpretado da pior forma.
E, nesses tempos de Fla-Flu, a coisa só piora.
Concordo com você, Denise: -"O mundo digital substituiu muito mal".
Abs.
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