sábado, abril 26, 2014

em plena entressafra existencial, o carnaval

Se mudanças são complicadas, mais ainda são entressafras existenciais. A intercessão do nada que passou e do nada que ainda não aconteceu é um vácuo absurdo, que não será preenchido pela teoria dos conjuntos.  Mas consegue ser pior, porque, como o diabo, finge que não existe.  Então você está tocando a sua vida e súbito percebe que está aprisionado por sua própria displicência consigo mesmo.  Aconteceu-me há anos atrás.  Não me dei conta que o carnaval se aproximava e até hoje me intriga o fato de ter perdido os comentários sobre alguma eventual opção. Para onde planejavam ir as pessoas ou mesmo quem haveria de ficar no Rio naquele tempo em que o carnaval se resumia ao desfile da banda de ipanema, às escolas de samba na sapucaí e aos bailes gay, foi como se nada tivesse sido dito.  Não me dei minimamente conta.  Estava, depois de anos, desacompanhada.  E, o pior dos mundos: não tinha uma amiga entressafrada como eu, um amigo disponível, um amigo gay querendo alguma folia.  Não tinha cachorro. Não tinha casa, porque a dos meus pais estava sendo pintada (foi mesmo há anos atrás) e eu estava hospedada com familiares.  Que, naturalmente, tinham planos para o carnaval e que sem problemas teriam neles me incluído se eu...bem, se eu os tivesse ouvido.  Tendo passado o mês de janeiro rapidamente (e não sei o que não fiz naquele mês), chegou fevereiro e lá pelas tantas acordei em pleno sábado de carnaval.  Sozinha, com a geladeira meio vazia. Porém, como o passar do tempo nem sempre é ingrato, lá pela segunda-feira apareceu alguém e rolou uma companhia para ir ao menos até o bar lagoa. Agora, se naquele tempo tudo me passou desapercebido por que raios eu fui me lembrar disso justo neste momento? Talvez porque pensei em escrever essas maltraçadas no carnaval, que já passou, e também porque hoje realizei que já passaram a quaresma e a Páscoa e - incrível! - semana que vem tem o feriado do dia do trabalho.      

2 comentários:

João Carlos disse...

Texto cheio de Rio de Janeiro. Válido para muitos cariocas das mais diversas origens.
Mais um feriado, imagina na Copa...

Nuno disse...

Lindo...