segunda-feira, dezembro 05, 2011

o pier de ipanema que eu conheci


Meus avós moravam na Praia de Ipanema e me lembro muito bem da oposição que meu avô fez ao indigitado emissário.  Ele, um carioca nato e praticante diário de frescobol, não concebia sua querida praia afogada no esgoto que seria atirado ao mar sem nenhum tratamento prévio.  Sim, o que hoje parece óbvio à época não era, tanto que o emissário lá está até hoje regurgitando porcaria (quando chove intensamente em pouco tempo as línguas negras aparecem volumosas em questão de minutos).  Meu avô engendrou uma briga ferrenha pela imprensa com a Cedae e fez um diário das condições do mar que avistava da varanda de seu apartamento.  É curioso que se fale agora que o píer ficava em frente à rua Farme de Amoedo.  A foto está aí para provar que ficava muito mais perto da Teixeira de Mello: clicada do prédio 192, onde meus avós moravam no sexto andar, lá está o píer à esquerda.  A Farme de Amoedo, na história da praia de Ipanema, é outra coisa: anos mais tarde viria a ser ponto gay (muito tempo depois, aliás). Também acho curiosa essa expressão "dunas da Gal" que agora dizem que identificava aquele local. Tudo bem que eu era pré-adolescente, mas as dunas ficaram lá por um bom tempo e nunca, nunca mesmo ouvi ninguém da minha família, ou seus amigos, ou os meus amigos, dizerem que frequentavam as "dunas da Gal". Dizia-se apenas que se ia a praia no "pier". Deve ser aquela velha coisa de quem conta um conto, aumenta um ponto.  Ou talvez haja uma certa dificuldade em colocar as coisas em perspectiva.

p.s. a foto é do Jornal O Globo, clicada à época da construção do píer e publicada no jornal, quando meu avô deu uma entrevista sobre o absurdo do emissário.

16 comentários:

monica disse...

que bacana Denise.
vc viu a reportagem do OGlobo??
fala disso...das dunas da Gal.
bj's

Denise S. disse...

Li sim, Monica! A reportagem do Globo está no link do texto ("Farme de Amoedo").
bjs

Poluição e despoluição disse...

Denise, suas observações são perfeitas mas o que gostei mais foi de ter visto a foto de seu Avô que conheci tão bem através das suas constantes menções. Por curioso que pareça no perfil (em toda a abrangência - fisionomia, senso crítico, mordacidade ) ele lembra muito meu Pai.
Falta conhecer sua avó!
Um abraço e como sempre, parabéns!

Denise S. disse...

Claudio, que curiosa a semelhança!

Dalton França disse...

Para a minha adolescência interiorana paulista o Pier representava a aura de 'transgressão' dos surfistas, que tanto seduzia nossos valores...
Bela postagem Denise! Grande abraço!

Denise S. disse...

Dalton, pra gente era no início apenas um trambolhão em plena praia, que mais tarde acabou por ganhar um charme extra.

coyoterj disse...

Olá Denise,
Ótimo seu post e a foto de seu avô.
Apenas gostaria de acrescentar que o fato de você ou seus amigos nunca terem ouvido a expressão "dunas da Gal" não significa que não era conhecida.
Frequentei o Pier de Ipanema por causa do surf e, assim como você, não sabia dessa referência a Gal, porém, em meu site e página do Facebook, reunimos vários amigos daquela época que garantem ser verídico o fato, assim como "dunas do barato", "pier da resistência", "pier da contracultura" e outros expressões usadas.
Gostaria muito de postar a foto do teu avô (com os devidos créditos) em meu site e no Facebook, se você permitir.
Abs

Denise S. disse...

coyoterj, pode publicar, contanto que com os devidos créditos.

coyoterj disse...

Está feito aqui: http://www.pierdeipanema.com.br/image/736/vovo-de-denise-e-o-pier-de-ipanema

Compartilhei no Facebook e Google+ também, via ícones no teu post.

Só não coloquei o nome dele porque não encontrei, então ficou Vovô da Denise :)

Obrigado!

Denise S. disse...

Valeu! não sei quem o fotografou, mas foi algum fotórafo do Jornal O Globo.

Tiago Cruz disse...

Denise,
sei não mas, tenho a impressão que essa história de "dunas da Gal" era coisa do Pasquim.
Mas que é um "trambolhão", é inegável.
Abs.

Denise S. disse...

Tiago, também acho isso meio invenção. E trambolho era, inegavelmente. Horroroso aquilo.

Jacques Nery Surf Life disse...

Concordo, sempre ficou mais para Texeira do que na Farme, o que acontecia era que a obra tinha uma cerco contendo o canteiro entao ficava mais pratico chegar pela Farme...quanto a esta d,e Dunas da Gal, marketing puro de alguem querendo promovela...na epoca isto nao exitia....concordo.,Pode ter sido o Pasquim,querendo enturmar a baiana... rsrs .

Isabel Santos Rocha disse...

Denise, confesso que não lembro direito do Pier, mas adorei a foto do Tio Mario!! Adorava seus comentários precisos e sempre engraçados!!um beijo Isabel

Denise S. disse...

Isabel, acho que vc não morava no Rio nesta época, não é mesmo?

Anônimo disse...

muito legal! estou escrevendo um romance que se passa na época e foi lindo ver essa foto!