A mídia dedicou ao amor a semana que antecedeu o dia dos namorados, programas e artigos sobre estudos recentes em paixão e romance, enquetes sobre expectativas dos homens e mulheres em relação a relacionamentos e etc. A neurobiologia descobriu que a atração é informada não por subjetividades, mas por cheiros que escapam ao olfato perceptível, cheiros que denunciam se o sistema imunológico do outro é complementar ao seu próprio para garantir uma prole forte. Visto assim, o fenômeno da atração parece fácil. Mulheres estrogênicas procurariam por homens testosterônicos. Não consegui assistir aos programas todos, vi parte de um na quinta-feira e a um terço de outro ontem. É natural a curiosidade da ciência sobre o assunto, não conheço quem não questione o amor romântico e quem não queira viver em estado de paixão. Não ouvi os cientistas dizerem, mas ousei supor um dia que o amor tivesse a ver com o desejo primário da reprodução e com a evidência de que duas pessoas juntas serão sempre mais eficientes em se proteger mutuamente na vida que, ainda hoje - e talvez mais ainda hoje - é uma verdadeira selva. Supus, supus... Minhas conversas com Cupido desde a adolescência nunca foram muito reveladoras, mas a de ontem, surpreendentemente, foi: não há qualquer razão palpável. O que explicaria, por exemplo, duas pessoas completamente diferentes se apaixonarem e, em alguns casos, permanecerem juntas anos a fio? É comum irmãos com temperamentos completamente opostos porque um puxou ao pai e outro, a mãe. Culturas distantes, origens diversas, diferenças de idade, os mais variados abismos os apaixonados superam por uma ponte chamada amor. A mim não parece razoável a explicação de feronômios para quem se conhece na virtualidade, e eu sei de um caso desses com final feliz, tampouco para aqueles que não mais estão em idade reprodutiva. Perguntei a Cupido ontem se seriam as flechas atiradas ao acaso ou se ele recebia alguma instrução superior antes de as desferir. "Porque você quer saber, afinal, porque todos querem saber? Aceitem o mistério", respondeu. Concordo. Aos apaixonados, aos que querem se apaixonar, aos que já se apaixonaram, aos que sofrem por amor e aos que se regozijam com ele, a todos, meus votos de um feliz dia desse mistério que se chama amor.
ilustração capturada na Internet, Cupido e Psique in love (também ele!), ela numa atitude de total entrega. Curioso, não existe "dia dos casados".
5 comentários:
O mistério é o que mantem a chama acesa. Essa de tentar explicar é uma grnade bobagem. Que existam as razões científicas mas que fiquem bem guardadas e fora do alcance do homem.
Isso mesmo, Carioca. Ao mistério, o mistério.
Lindo, DS, inspirada ao pensar, articulada ao escrever...
Bjs, KC
De, não há dia dos casados porque supostamente somos eternos namorados... Bjocas. Vládia
Eternos namorados? Mas não seria o estado "casado" um estágio a mais de "namorados"? Tipo, um "upgrade"? É curioso, porque a comemoração deixa de ser coletiva e passa a ser solitária.
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