segunda-feira, setembro 03, 2018

na roça

Vou pra roça com meu pai.  Quero ouvir o silêncio que dá um quase zumbido nos ouvidos, ler um livro sem ser interrompida, ficar ao abrigo da reverberação das más notícias.  Quero ter ao menos uma daquelas longas conversas com ele que meio que nos emocionam (sobretudo quando trazem  lembranças dos que já se foram), meio que acertam alguma ponta pendente, ou, se não acertam, mal também não fazem.  Vou ver o que o jardim trouxe de novo nesse último par de meses, ver os animais, tomar banho de rio, andar a cavalo, e com sorte chegar até o sertãozinho, onde há lindas e imensas bromélias nativas. Quero ficar despojada dessa bravata que virou viver nessa cidade.  Achar graça de ter que subir o morro para tentar uma vez por dia pegar um sinal de celular e, com sorte, acessar a internet.  Quero ir ao quilombo São José e ter dois dedos de prosa com alguém de lá que certamente sabe quem eu sou sem que eu jamais tenha me apresentado.  Sou urbana, eminentemente urbana, mas amo o mato e gosto de mim quando estou lá.  
Fico mais doce.  Talvez, mais eu.