sábado, março 31, 2007
as chaves perdidas e a mesma pergunta
o vôo atrasado
a semana acabou e acabou comigo
(toda sexta penso sobre a velocidade do tempo).
Cheguei.
E diante da porta, antes de abri-la,
retenho-me um pouco e sinto um alívio
sabendo-me tua.
Quase vinte anos e a mesma pergunta:
será isso o amor?
quinta-feira, março 29, 2007
quarta-feira, março 28, 2007
O que a Internet mudou na sua vida?
Outra coisa foi ver um certo triunfo da palavra escrita. Sempre se falou muito, sempre se escreveu pouco. Agora não, agora todo mundo escreve e o e-mail é prova disso. É curioso porque realmente se escreve como se fala. Às vezes me parece até que, lendo um e-mail, estou vendo a pessoa falando na minha frente, seus trejeitos, entonação e gestos. Esta é uma das formas mais eficientes de aproximação de pessoas que já vi depois de um vinho à mesa.
A outra eu diria que foi não tirar do armário, mas da gaveta. Da gaveta para a virtualidade, é isso o que acontece. Esses blogs nada mais são do que a abertura dessas gavetas, aquelas a que se refere Virginia Woolf como o destino certo de uma idéia latente ou natimorta. Além do mais, aproximam pessoas pelas suas idéias ou as contrapõem também pela mesma razão.
Nunca pensaria ficar tão afeita a uma tecnologia, esta coisa tão recente. Assim como jamais poderia supor que ficaria tão vidrada em yoga, esta prática tão antiga.
sábado, março 17, 2007
sobre a hipocrisia
2 ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade. Ex.: ela veio com a habitual h., mas não me enganou
3 caráter daquilo que carece de sinceridade. Ex.: a h. das palavras
O Presidente da República andou falando a respeito, reclamando como de costume de seus pares políticos, outro dia ouvi um comentário sobre a necessidade da hipocrisia na vida social, sobre as múltiplas mentiras que se contam todos os dias (por volta de 60 diariamente, não pensei que falássemos tantas); enfim, o assunto, vira e mexe, vem à tona.
Talvez porque toda pessoa traga em si uma bela dose de hipocrisia.
O que chama a atenção é que ninguém admite tê-la, provavelmente o mesmo fenômeno que ocorre com a inveja, da qual todos se dizem objeto, jamais sujeito.
Não fosse a hipocrisia, porém, certas profissões ficariam altamente prejudicadas, ou mesmo seu exercício restasse totalmente impossibilitado (diplomatas, políticos, advogados, marqueteiros, publicitários, poetas, escritores, donas de casa, socialaites); talvez sem ela fosse o mundo mais beligerante do que já é.
Não faço a apologia da hipocrisia, claro que não. Confesso-me hipócrita, o que é bem diferente. Sim, é verdade, mas não sou hipócrita o tempo todo; aliás, o sou bem raramente. Em tempos mais iludidos, sofri mesmo as conseqüências de um certo excesso de sinceridade, mas isto não vem ao caso. Vivi, aprendi, não necessariamente evoluí. E confesso mais outra imperfeição: a de estar abaixo da média nesse quesito. Seja como for, é no ponto inverso que mora o perigo, é a livre manifestação do pensamento que move alguém de sua zona de conforto para a linha de tiro. Da sala de visita para o front.
Porque ninguém tem preconceito, não é mesmo? Oh, claro que não! Vá você expressar algum para receber, incontinenti, a enxurrada de censura dos politicamente corretos, os que, a exemplo dos invejosos, jamais comungam desta torpeza. Vá você confessar seu desconforto com alguma minoria, hoje alçada à condição de casta sacrossanta e intocável, e receba - de imediato - sua sentença à la carte: ser empalado vivo ou crucificado no hall dos elevadores, como queira.
É a vida. Seja a dos hipócritas militantes e declarados (raros), seja a dos confessadamente e por vezes hipócritas, seja a daqueles seres virtuosos que, ao se incomodarem com a sinceridade alheia e não perceberem que só se vê no outro o que se é, são duplamente hipócritas.
Mas sobre isso, evidente, não se fala.