Domingos
de Oliveira morreu e só agora me dei conta. Que estranho, a morte sempre me
impacta logo e tanto, ou será que em algum momento deixou de impactar e não
percebi? Essa reação tardia me é estranha.
Não era sua amiga, quem sou eu. Encontrei com ele um dia no aniversário da
minha amiga Leila Meirelles, eles, sim, eram amigos. Fiquei sem
graça de pedir para tirar uma fotografia com ele, então tirei dele depois de
silenciar o telefone, mas acho que ele percebeu, que de bobo não tinha nada.
Eu adoro seus filmes. E de um em particular, porque me fez ver o menino que
todo homem nunca deixa de ser - e depois disso confesso ter passado a ver os
homens de outro jeito.
Assisti “Juventude” no dia 25 de dezembro de 2008 às 16:00 hs com mais meia
dúzia de 3 ou 4 pessoas na sala. O filme foi em diversas passagens aplaudido em
cena aberta. Todos éramos fãs dele, ou não estaríamos no dia de Natal à tarde
assistindo um filme de Domingos de Oliveira. Que tratava de 3 amigos que se
encontram para festejar o aniversário de um deles e estão impressionados com a
chegada dos 70, a idade do “você está ótimo”. Tendo percebido que meu psi
estava também pasmo com os 70 que em breve completaria, dei o dvd pra ele de
Natal na sessão de terapia seguinte. Ele amou o filme, disse que tinha sido o
melhor presente daquele Natal.
A conversa que o filme nos trouxe sobre o tempo, as idades, e sobretudo sobre o
menino que todo homem nunca deixa de ser nos rendeu senão a mais intensa e
densa sessão de análise, certamente uma delas. Para nós dois, aliás.
Domingos
era, ele mesmo, um menino, um menino travesso, arteiro e apaixonado pelas
mulheres, que me fez entender os homens um pouquinho mais, porém um pouquinho
que me deu conforto e redenção. Foi com esse filme que relembrei a menina que
sou sendo já mulher e a menina que também nunca vou deixar de ser. Somos umas
crianças na versão adulta, uma versão que o tempo concede, e não a idade. É
estranho, mas é isso, sem tirar, nem por.
Quem
sabe, Domingos, não nos encontramos num pátio de recreio? Será que se eu tiver
coragem de te chamar pra brincar você brinca comigo, menino?