quarta-feira, setembro 30, 2009

nada como dantes no quartel de abrantes

Num seminário, saio de uma porta e dou de cara com um afro-descentente de terno preto, a quem pergunto se saberia informar se no hotel há um restaurante. Diz que não sabia, mas "que deveria haver". Mais tarde, depois do almoço, percebo que não era um segurança do hotel, mas um participante do tal seminário jurídico, provavelmente um advogado. No Arpoador, diante de um bebê simpático que não parava de me sorrir, pergunto ao senhor que empurrava seu carrinho se era seu neto aquele baby tão sorridente, ao que me responde ser seu filho, com especial ênfase na palavra filho. Na minha rua, a maior casa do trecho em que moro pertence a uma criatura que só anda de chinelos. A cachorra dos meus pais, uma fox paulistinha, raça super rústica que em geral vive uns quinze anos, morreu de um câncer fulminante em menos de uma semana com oito anos de idade. O meu viveu treze e era a criatura mais frágil do planeta, de tão doente. Sei não, mas estou me sentindo algo deslocada ultimamente. É estranho não receber um manual de instruções novo para a vida a cada quinze dias.

terça-feira, setembro 22, 2009

tesouro

guarde meu amor contigo
guarde-o mesmo, bem guardadinho
como um livro que abriga uma flor hoje seca
que antes, porém, bem perfumou o seu instante

a origem das coisas

Quando as coisas não me vão lá muito bem em termos literários eis que um Hemingway vem em meu socorro. Deste - "O Verão Perigoso" - nunca ouvira falar, mas caiu no meu colo como um quina da loto me cairia perfeita se estivesse prestes a sair de férias. Um Hemingway tem essa fisgada imediata, da primeira linha até onde a vista aguenta segue-se num prumo só, e é apenas o sono que pode então me vencer, embora antes relute bastante. É fluido, é instigante, é prazeroso. É delicioso. O tema deste em particular são as touradas que ele tanto admirava e quanto mais são descritas mais me fazem pensar na origem delas. O que terá sido? Um camponês que desafiou os amigos a enfrentar um touro e depois virou uma competição causada pelo excesso de testosterona dos adolescentes virando machos? Ou terá sido um rapaz que quis fazer bonito para a sua amada que não o notava? Tantas coisas cujas origens me escapam, pensei. O fã clube da bossa nova no Japão, a queda dos italianos pelo drama, o pé-sujo fedorento que vira ponto de encontro absoluto, a intimidade que se faz do nada, o filme idiota que fica um ano em cartaz, o amor eterno que se desfaz, outro arrasado que se reconstrói. O mundo e meu permanente pasmo diante dele, cuja origem, também esta, ignoro.

segunda-feira, setembro 07, 2009

jardim botanicamente

citibank, abbr, bradesco
a placa diz ali ser 60 o limite de velocidade
da varanda do belmonte é quase tudo o que vejo

neste sete de setembro de saudade e tédio