domingo, novembro 14, 2010

será?










será a paz que só tenho em teus braços
o aperto no coração por tua ausência
a alegria em ouvir tua voz
ou apenas saber que estás bem:
será isso o amor?

o olhar fixo num ponto em plena algaravia
a abrigar tua lembrança tão querida
a lágrima e o sorriso:
será isso o amor?

ou será muito mais que isso?


p.s. a foto é minha, um instantâneo da decoração da romântica festa de casamento da Pilar ontem. 

domingo, novembro 07, 2010

pessoas descartáveis, coisas imprescindíveis



Arqueje seu dedo médio e o pressione contra seu polegar, fazendo um círculo.  Depois, solte o dedo médio, o estique bem esticado e estará feito o peteleco.  Sim, é tudo o que é preciso fazer para descartar alguém por quem se perdeu o interesse, a função, cuja presença ficou injustificada na vida.  Estamos em 'tempos líquidos', não será uma descortesia, é o código de conduta em vigor, o que facilita muito a compreensão pelo descartado.  Pode ser que o objeto do peteleco até tenha sido em algum momento uma presença benfazeja, mas agora perdeu o interesse.  Isso, peteleque sem culpa.  Agora pense nas coisas indispensáveis, nos seus must have, naquilo que não dá para passar sem.  É grande a lista? Hum..., é.  Curioso: hoje, sem razão aparente, realizei que pessoas são frequentemente coisificadas e coisas, personificadas.   

p.s. Logo após postar, indagada por uma amiga se descarto amiúde ou se sou descartada, respondi que já descartei, mas por uma causa justificada, porque me vi num relacionamento deletério e/ou maléfico.  Seja como for, jamais descartaria meu pai, ou minha mãe, ou minha irmã, ou meu marido, inobstante dificuldades e pentelhações de toda ordem. 
p.s2. a foto é minha, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro num instantâneo domingo passado.  Nunca havia ficado na galeria, a visão é total e a companhia, animadíssima.  Barishnikov continua uma tremenda presença em cena. 

segunda-feira, novembro 01, 2010

sobre as eleições (e duas ou três coisas que sei)

Quis o destino que num domingo, lá pelos idos de 1980 (ou 1981), eu tenha assistido, junto com meu pai, um programa chamado Canal Livre, comandado pelo jornalista Roberto D'Ávila e veiculado pela TVE.  O entrevistado do dia era um líder sindical que acabara de fundar um partido chamado "dos Trabalhadores", Luiz Inácio da Silva, depois dito Lula.  Assistimos ambos muito impressionados e, ao final, disse para meu pai que perigava de um dia o sindicalista vir a ser Presidente da República, tanta retórica e articulação.  Meu pai, que assistiu vidrado a entrevista, ainda que do entrevistado discordasse de tudo e por tudo, me censurou.  Naquele tempo as eleições diretas não haviam sido retomadas.  Eu acabara de entrar na faculdade. 
Quis também o destino que em 1989 eu tenha votado naquele sindicalista para presidente, assim como nas eleições que àquela sucederam.  Era um partido ideológico, com um discurso claramente ideológico, e com ele me identificava.  Coisa da juventude?  Talvez, mas não estava em má companhia, havia muitos intelectuais de peso no projeto de um partido cuja luta maior era um país socialmente mais justo.  Sempre votei no PT, à exceção de quando a candidata ao governo do Estado do Rio se uniu ao casal Garotinho. 
Quis ainda o destino que passados muitos anos, em 2005, eu fosse convidada para implantar uma empresa pública cuja missão maior era (e é) realizar os estudos de planejamento energético para a formulação de políticas públicas.  Uma empresa nova, concebida por força das lições colhidas com o racionamento de energia de 2001, enxuta e altamente técnica. Estava no setor elétrico há um tempo e, sem querer, me vi envolvida num projeto do partido em quem sempre votei, embora tenha sido chamada por critérios profissionais. Implantamos toda a empresa.  As licitações - do mobiliário, equipamentos de telefonia e informática aos serviços de copa e recepção - tudo foi feito com uma equipe muito pequena.  Elaboramos as normas internas da empresa, promovemos os concursos públicos, tudo, enfim.  O projeto foi pensado pela então Ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff  e dele sou testemunha de nunca ter havido favorecimento a quem quer que fosse.  Aliás, havia uma preocupação enorme com a lisura e a transparência das ações.  Não houve nenhuma intercorrência judicial nas tantas licitações que fizemos, rolou tudo redondinho, trabalhamos direitinho, a empresa lá está, concorrendo para que não falte luz aos empresários, aos cidadãos, para que não se repita o fiasco do governo anterior nessa área, evidenciado pelo desabastecimento que todos amargaram e que foi uma vergonha nacional, mesmo que bastante anunciada aos então governantes. 
Quis o destino num de seus atalhos que a então Ministra de Minas e Energia viesse a ser uma auxiliar mais próxima do Presidente da República e que, por seu espírito empreendedor, por sua lealdade a ele nos momentos difíceis tenha sido sua escolhida para sucedê-lo.  Por fim, comandou o destino que Dilma Rousseff tenha sido ontem eleita para Presidente da República.
Ouvi muita coisa nessa campanha.  Para aqueles que insistem em propalar o 'aparelhamento das estatais', dou aqui meu testemunho pessoal de não ter visto nada disso na empresa que ajudei a implantar, como tampouco vejo na que hoje trabalho.  Gostaria que essas informações do dito aparelhamento viessem de forma mais palpável ao público, porque o espírito da corporação nas estatais é muito forte e não raro regimental.  De fato, ouvi muita coisa: que a candidata não tinha biografia, que não teria competência para governar e etc. Quanto à biografia, parece simples, são dados de realidade:  trabalhou na área pública por anos, foi presa nos tempos da ditadura, tem formação superior.  Já sua capacidade de trabalho é sabida e consabida.  É inegável.  Por que tanta maledicência, então? Medo? Preconceito? Ignoro. 
Ouvi cada coisa.  Que o "povão" vota em quem lhe dá uma merreca e que prefere comprar bens de consumo a ter saúde e educação.  Ora, que balela. O "povão" gostou, isso sim, de ser elevado a uma camada da população que consome (ou não estamos num regime capitalista?) e saúde e educação são problemas históricos, vindos de sucessivos governos, que apenas alguns países no mundo resolveram de forma satisfatória e que todos esperamos que aqui sejam um dia também resolvidos.  As instituições e os ideais da República estão preservados, os erros, os malfeitos, investigados,  as autoridades policiais enfim a tanto aparelhadas.  Muitos escândalos, argumentaram.  Para os desmemoriados lembro que a Controladoria Geral da União foi criada pelo governo anterior - uma atitude louvável, diga-se - em razão de eventos do gênero.  Disseram ainda que a máquina administrativa foi usada para o auxílio da candidata do Presidente.  Como isso pode ocorrer não sei, já que há em vigor uma lei eleitoral que proíbe práticas tais.  Nenhum gestor de empresa pública há de querer responder por crime eleitoral.  O que se fez, ninguém aponta concretamente.  Dizem, dizem, dizem.  Disseram, disseram, disseram. Muita coisa, tanta bobagem.  Poderia contraditar muito, mas não vale a pena.  As urnas, finalmente, falaram - e seu resultado ninguém pode contrariar.     
Agora, veremos.  Já sob o sábio alvitre manifestado pela Presidente eleita de que democracia não é ditadura da maioria.

p.s. foto capturada do site do NY Times