terça-feira, julho 06, 2021

gentil visita às seis da manhã

Há exatos cinco anos atrás recebi a gentil visita de senhores e senhoras que bateram à minha porta às seis horas da manhã.  Entraram abrindo as gavetas, levantando almofadas, mexendo em tudo.  Não tive medo, mas quase morri de susto.  Aliás, quase mesmo.  A dita visita poderia ter sido evitada - uma carta, um ofício seriam bastantes.

Mas não.  O circo à época montado demandava a cena.  Não impedi, não embaracei, fiz o que me pediram.  Até hoje a coisa se arrasta.

Antes de se cunhar a expressão "cancelamento", fui cancelada.  Fui também a primeira advogada a ter o seu ofício criminalizado.

Em 2016 eu tinha 32 anos de formada.  Uma reputação construída com muito, muito esforço e luta. Como doeu.  Ainda dói.

E dói porque não terminou, a coisa se arrasta.  É tão insignificante que se arrasta, esquecido em algum escaninho empoeirado.  "É a pandemia", dirão alguns.  Não, não é a pandemia.  É algo que não deveria nem ter começado a existir, mas, já que começou, que não tardasse em acabar.

Tenho minha consciência tranquila, sempre terei. E aqueles que provocaram todo esse horror, de uma forma ou de outra, certamente consciência é algo que não têm.