terça-feira, janeiro 09, 2018

block is the new black

Percebi ter sido bloqueada no Instagram e não atino a razão.  Sendo alguém que conheço,  - mais precisamente quem considerava uma pessoa amiga - e se não tive um comportamento que minimamente possa ser interpretado como inconveniente, alguma coisa há.  Pergunto a pessoa diretamente via zap a razão daquela atitute - sim, sou curiosa - e ato contínuo a resposta já não me interessa.  Perdeu-me o interesse aquela pessoa por quem eu nutri um sincero afeto, que queria ver bem e feliz.  Sequer li a resposta. Estranho esse súbito desinteresse meu, logo eu jamais indiferente e sempre tão reativa, mas foi tão súbito quanto intenso.  Foi um super fenomenal foda-se.
Passado o pasmo inicial, engatei uma segunda e bloqueei eu mesma a pessoa que um pouco mais tarde veio a me desbloquear (se não percebo a razão da primeira atitude, menos ainda me convém agora saber a razão da segunda) e a surpresa do alívio que poucas vezes senti com tanta fervor foi inexplicavelmente intensa.  Ah, que maravilha bloquear.  Que coisa fascinante clicar sobre aqueles três pontinhos à direita e confirmar positivamente a mensagem que em seguida aparece indagando quase que in extremis se é isso mesmo que se quer fazer diante de tão nefastas consequências.  Sim, eu quero, querido aplicativo, eu quero bloquear.  Deixe-me bloquear. E não só quero como faço. E não só faço como o faço resolutamente e sem nenhum esforço além de clicar nos  tais três pontinhos e depois, hum, depois confirmar. Que coisa redentora saber que nunca mais verei quem a pessoa curtiu ou deixou de curtir em seguidores comuns; que alívio saber que desconhecerá meus passos dali pra frente.  Nada do que eu fizer estará a seu alcance, ignorará se estou aqui ou acolá, sozinha ou acompanhada, sobretudo por quem acompanhada, se de cara lavada ou não, se em minha cidade ou fora dela, se em minha rotina ou catapultada para um resort cinco estrelas que não se supõe como lá teria eu ido dar com os costados. Que poder este o do bloqueio.  Que maravilha este desinteresse que me contagiou como uma virose pestilenta de verão carioca devolvido neste simples gesto que se chama... bloquear.
Minha mais nova resolução de ano novo: bloqueie mais, mas bloqueie mesmo, sem dó nem piedade, bloqueie na vida online e fora dela,  que isto é mais do que poder, isto é mais alívio do que aquele redentor xixi da cerveja, isto é tão simples como na dúvida sobre o que vestir escolher aquele little black dress velho e bom de guerra que nunca fez feio em nenhuma ocasião.   
Eu não sabia, mas agora tenho certeza: block is the new black. Estou pronta para você, 2018.

P.S. a imagem, capturada do Google, é de Oprah Winfrey em seu emocionante discurso na 75a edição do Globo de Ouro, quando todos foram de preto em demonstração de repúdio ao assédio sexual e outros abusos pelos quais passam as mulheres.  Esta atitude agora me fez pensar que black is the new block.  Block neles!



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