É estranho sentir saudade, mais ainda saber que esta palavra, no seu sentido preciso, não existe em outras línguas.
Tenho saudade de tudo, todos e de coisas bizarras, coisas que, em geral, não são propriamente objeto da saudade de ninguém.
Saudade da faculdade, de ter estudado na PUC no tempo da ditadura. Saudade dos pilotis, do intervalo nos pilotis. Saudade de fazer ginástica num tempo em que ninguém fazia e tinha meia dúzia de dois ou três gatos pingados em sala. Saudade do meu primeiro emprego, aquela exploração. Saudade da amiga que me traiu antes da traição, de ovo frito com feijão que nunca mais comi, daquela vegetação rasteira que havia na areia da praia de Ipanema que fazia cócegas na sola do pé. De uns chinelinhos de couro malcheirosos que se usava quando eu era adolescente. De ser adolescente, claro, este deve ser o ponto g da minha saudade. De não viajar a trabalho, de escrever a mão, de ir a cinema na orla (Rian e Miramar). Pode ser manjado, mas tenho saudade. De ficar espantada com peça de teatro, tanto quanto fiquei com “Trate-me Leão”, e de ler Clarice Lispector e Lillian Hellman pela primeira vez. De falar horas ao telefone com o namorado.
É assim: passou, tenho saudade.
Dizem que se sente saudade do que ainda existe mas que está longe, e nostalgia do que não existe mais. Não sei.
Sei que sinto.
Tenho saudade de tudo, todos e de coisas bizarras, coisas que, em geral, não são propriamente objeto da saudade de ninguém.
Saudade da faculdade, de ter estudado na PUC no tempo da ditadura. Saudade dos pilotis, do intervalo nos pilotis. Saudade de fazer ginástica num tempo em que ninguém fazia e tinha meia dúzia de dois ou três gatos pingados em sala. Saudade do meu primeiro emprego, aquela exploração. Saudade da amiga que me traiu antes da traição, de ovo frito com feijão que nunca mais comi, daquela vegetação rasteira que havia na areia da praia de Ipanema que fazia cócegas na sola do pé. De uns chinelinhos de couro malcheirosos que se usava quando eu era adolescente. De ser adolescente, claro, este deve ser o ponto g da minha saudade. De não viajar a trabalho, de escrever a mão, de ir a cinema na orla (Rian e Miramar). Pode ser manjado, mas tenho saudade. De ficar espantada com peça de teatro, tanto quanto fiquei com “Trate-me Leão”, e de ler Clarice Lispector e Lillian Hellman pela primeira vez. De falar horas ao telefone com o namorado.
É assim: passou, tenho saudade.
Dizem que se sente saudade do que ainda existe mas que está longe, e nostalgia do que não existe mais. Não sei.
Sei que sinto.
22 comentários:
Sollami... também andei pela PUC mas então já não havia a ditadura, era época de fiscais do Sarney, por aí... E peguei o último ano de cerveja naquela bar descendo as escadas; logo depois os padres aboliram. Péssimo para nós, mas sensato da parte deles. //
Um dia, há uns meses, fui numa festa em que havia muitos adolescentes - adolescentes da classe A da sociedade. E tive uma clara certeza: o mundo é deles.
Mas eles não conheceram o Rian (onde assisti a “O Império Contra-Ataca”).
Denise Sollami, o escritor e cronista Artur da Távola disse que "não se mata a saudade. Vive-se a saudade"...
Tenho saudades imensas de algumas coisas:
1 - Da minha esposa que nos deixou para sempre no ano passado;
2 - Dos meus filhos quando eram pequenos, das comemorações de seus aniversários, de nossos passeios;
3 - Dos Natais e Reveillons ao lado deles ainda pequenos, ao lado de minha esposa e parentes.
Bem, vou parar, Denise, se não já viu.
Beijos
não tem jeito, todo o mundo tem saudade...
Dede'..lendo suas saudades lembrei me de duas "inesquecíveis" para mim e gostaria de partilhar com vcs.
A primeira e' a saudade ANTECIPADA,contida nos encontros tão raros que temos na vida.Ela foi "descoberta" por Artur da Távola em sua crônica ENCONTROS E DESENCONTROS...ai vai o link
http://paginas.terra.com.br/lazer/sejafeliz/encontros_e_desencontros.htm
E a outra saudade e' aquela que dói no Adelino...e que foi maravilhosamente descrita por Afonso Romano em sua crônica "Antes que Eles Cresçam"... no link
http://www.mines1.hpg.ig.com.br/AB11.htm
Espero que apreciem como eu..um bju
Ainda bem que temos saudade. Não é?
Tava pensando:
a saudade e' a prova de que não vivemos (o passado) em vão. ..
...então..que façamos do nosso presente uma saudade no futuro!
As saudades que disse aqui são inetnsas pelo jeito. Tb tenho saudades da PUC, da ipanema antiga, e por aí vai. Belo texto.
Denise, permita-me falar com a ROBERTA. A crônica da qual fala, do Távola, eu conheço, e só ele mesmo para imaginar aquilo tudo. Eu me identifico muito com ele. Vou ler o link da crônica do Romano. Valeu, roberta.
Obrigado, Denise.
Abraços
Ah...não posso deixar de escrever aqui a definição de saudade segundo Adriana Falcão:
SAUDADE E' QUANDO O MOMENTO TENTA FUGIR DA LEMBRANÇA PRA ACONTECER DE NOVO E NãO CONSEGUE...
( do livro muito lindo "Mania de Explicação")
Roberta, não sabia desse livro da Adriana Falcão, de quem gosto muito. Linda esta definição.
Denise
Vim parar aqui via Fernando Cals. E gostei do seu texto. Dou aulas até hoje na PUC, mas minhas saudades são mais antigas, do tempo do PH, da vila como única entrada da PUC, sem o prédio Kennedy, da japona no inverno, do bar do seu Zé, único existente (depois abriram o das freiras). Do jornal Murral, dos papos no Diretório Central ouvindo Sinatra (hoje ouvem hip hop...), das saídas diretas da PUC para o Castelinho no meu fusca 63, estacionando do lado da praia em qualquer vaga, pois carros eram poucos. Do lotação na Marques de São Vicente, do bonde que ia até a praça do jóquei, das meninas de casaco de banlon no inverno e saias preguiadas no verão. E das idas ao LaMole depois das aulas de 6a. feira...
Denise,
Me senti inteiramente identificado com o seu texto. Também sinto saudade de tudo. Às vezes penso que o passado é o tempo mais importante de minha existência. O presente não vivo direito, preocupado com o futuro, e o depois não percebo, pois já é presente. O passado, e as saudades que me voltam de presente, me acompanham.
Beijo
Fernando, saudade do Castelinho. lembra? Era uma graça! Fico feliz que vc tenha gostado do texto.
Lord, porque será que todo mundo sente tanta saudade? Deve haver uma explicação.
Adorei o seu texto, Denise - lindo, lindo...
Essa coisa que não querer esquecer, de gostar de lembrar -tipo recordar é viver -, me lembrou aquele filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças". Lembra que o Jimmy Carrey não quer esquecer o romance dele? Aliás, gosto muito desse filme.
E outra saudade que a gente sente é da gente mesma, não é? A gente percebe que mudou e que não acredita mais nas mesmas coisas, perdeu um pouco da ingenuidade...
Me lembrou também o post de hoje do Cuenca. Vc já leu? Bjs, Ana Luiza :)
será que se eu tivesse nascido na Austria eu não iria sentir saudade?
José Luis não saberia dizer. O sentimento talvez vc tivesse, embora me pareçam um tanto estóicos, já o nome para o sentimento não sei se existe. Não falo alemão.
...Ana??? Sabe essa saudade de "si mesma"?? Eu acho que e' por causa dela (TAMBEM) que gostamos tanto de reencontrar velhos amigos...pq ao faze lo,reencontramos com a recordaçao que eles tem de nos (e,confirmam tudo aquilo que fomos,trazem nos um pouco de volta a juventude..)
Oi, Denise,
desse tipo de saudade, eu adoro ter.
Miramar,. um cinema que assistiu meu namoro com minha mulher, fora outras gracinhas que cometiamos.
"Trate-me Leão", do meu primo-irmão Hamilton Vaz Pereira, de que tanto falam, até hoje, e eu nunca vi, disso tenho saudades. Dos bons times do Flamengo, das areias liumpas e brancas, rangendo sob meus pés, de Copacabana.
Tantas boas saudades....
beijos
fernando cals
Só lembranças trazem saudades.
Algumas até ruíns, "aquela namorada", por exemplo.
strix.
Denise, sugiro que leia "Sobre Desu e o Sempre", do rabino Nilton Bonder. Algumas respostas estão ali.
Um abraço
Cláudio
Denise, sugiro que leia "Sobre Desu e o Sempre", do rabino Nilton Bonder. Algumas respostas estão ali.
Um abraço
Cláudio
A propósito: estive recentemente na Puc e senti a mesma nostalgia feliz de ter podido frequentar aquele espaço num tempo tão bom (com ditadura e tudo...)
Um abraço
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