quarta-feira, fevereiro 28, 2007

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

se

se eu acordar na hora
(se o despertador tocar)
se não pegar muito trânsito
se não chegar atrasada
se o dia não for muito apertado
se nada me aborrecer demasiado
se não cair nenhuma tempestade de verão
se não ficar presa em reunião até tarde
se à noite eu estiver sã e salva
eu juro pelo que há de mais sagrado:
o que restar de mim é teu.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

o carnaval é o povo

Não que eu seja elitista. Não que eu não goste da diversidade. Não que eu seja a tal ponto exclusivista que não possa dividir um canto da areia da “minha” Ipanema com outras pessoas. Mas o que vi neste carnaval em termos de freqüência foi praticamente uma visão do inferno. O Congo é aqui e não me lembro de ter feito reserva na Air-Congo para este carnaval.
Jamais, em tempo algum, vi tanta gente feia, nunca vi tanta gente gorda. Mentira dizer-se que este é um país de famélicos – este é um país de gordos. Ou, então, mais este paradoxo: um país de famintos gordos. Famintos gordos que, aliás, passam o tempo todo a mastigar.
E que gordura feia. Deparei-me com os mais variados tipos de bundas e barrigas e coxas e peitos. E braços e costas e... Diante de tal quantidade e feiúra, algumas perguntas me ocorreram.
Por que tantas varizes? Eu não tenho varizes, minhas amigas não têm varizes, e a esta altura já poderíamos tê-las. Tampouco as tem minha mãe e a mãe de minha mãe também nunca se queixou desta mazela. Alguma informação genética? Alguma outra predisposição?
E por que brotoejas pretas na bunda? Fiquei especialmente intrigada com a possível causa das tais brotoejas, copiosas em alguns casos. Será algum tipo de dermatite de contato advinda do fio sintético usado na confecção de peças íntimas de baixa qualidade? O fato é que nunca, jamais, alguém de minhas relações apareceu à praia com a bunda toda coroada de brotoejas, o que me leva a supor que nunca tiveram brotoejas. Brotoejas pretas, bem entendido. Pontos de negror gritante.
Além de brotoejas e varizes, a gordura. Um verdadeiro carnaval (desculpe o trocadilho) de barrigas dos mais inusitados feitios. Pequenas mas flácidas, grandes mas duras, caídas de um lado, com várias dobras, em alguns casos mais dramáticos um verdadeiro simulacro de gravidez. Sim, pareciam mulheres grávidas de gestações múltiplas. Barrigas abusadas, destas a começar nas costas e a se expandir para além do espaço que poderiam, já com bastante generosidade, ocupar.
Bundas. Céus, as bundas. Aqui eu poderia poupar minha meia dúzia de dois ou três leitores, mas não resisto, tenho que falar. Porque não eram bundas de pessoas físicas, eram bundas de pessoas jurídicas. Bundas sociedades anônimas de capital aberto, com ações negociadas na bolsa de valores. Bundas commodities. Bundas safras recordes. Nunca vi nada parecido.
Fiquei estupefata e que não se venha com o argumento que tem o lado bom, porque diante deste quadro qualquer uma se acharia ótima etc e tal. Assim não vale.
Não que eu seja elitista.

domingo, fevereiro 11, 2007

A Contribuição de Carlo Ponti para o Mito da Vagaba Perfeita

Não basta ser vagaba, tem que ser com estilo. É das mais deslavadas mentiras uma mulher dizer-se liberada ou vadia ou o que seja, porque são raras as que conseguem chegar no limite da perfeição, na radicalidade do conceito da vagabunda perfeita. E este é o sonho de muita mulher, sejamos francos.
Dizem alguns, até, que uma vagaba ‘a vera’ tem um espírito de vagabunda, algo que precede a sua militância.
Eu a conheci bem cedo e foi por acaso. Não era especialmente bonita, mas bonitinha. Com uma harmonia de traços e um bom corpo, sabia quem era, não tinha a ousadia de se sentir mais do que seus atributos lhe conferiam em termos físicos, como tampouco queria ser mais bonita. Era o que era e ponto. E nem precisava de mais beleza, pois tinha a perfeita noção de seu magnetismo e de sua ascendência sobre os homens.
Era séria, não de muitos sorrisos. Devia comunicar, com esta pseudo-seriedade, que se resguardava para seus eleitos - e talvez fosse isso mesmo. Vestia-se simplesmente, não havia produções maiores. Com os vestidos da época, ‘chemisiers’ que hoje vestiriam a mais pudica das donas de casa, não chamava a atenção. Mais uma de suas sutilezas furta-cor.
O fato é que era uma liberada mesmo. Como um capitalista que quer maximizar seus lucros, ela queria mais. Mais homens, mais amantes (de preferência provedores), mais sedução. Mais diversão, mais novidade. A bisavó do atual conceito de diversidade. E os abandonava, um após o outro, após o outro, após o outro. Antes que o homem pudesse imaginar um rompimento, ela o anunciava no auge da paixão e do apego. It’s over, c’est fini, finito. Punto e basta.
Eles ficavam loucos. Um deles, artista plástico rico e desajustado, cobriu-a, literalmente, de dinheiro, ela morta de rir nua deitada na cama da mãe dele, uma mansão em Roma. Pois nem dinheiro e nem jóias a seguraram. Dias depois, ele a vê, com seu vestidinho de sempre, descer uma daquelas escadarias comuns em cidades italianas feliz da vida com seu novo par. Ele enlouquece, a procura mil vezes em vão, promete-lhe mundos e fundos, ela nada. O pobre homem se consome, nunca mais pinta um quadro e é por isto que o filme se chama “Telas Vazias”, uma produção bem antiga de Carlo Ponti que eu, com os olhos estatelados na micro telinha da TV preto e branco do meu quarto (era então uma grande coisa ter TV no quarto), assisti, com onze anos de idade, na Sessão Coruja de um sábado.
Se eu tivesse talento para ser uma vagaba, teria recebido, bem precocemente, o roteiro da dita perfeitíssima das mãos de ninguém menos do que Carlo Ponti.
Ele morreu outro dia e me lembrei deste filme, do qual, na verdade, nunca esqueci.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

querido leminski

com leminski aprendi
que tudo se desaprende
que distraída, vencerei
a dor
que o poeta deveras sente

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

... e a resposta para encerrar em definitivo o insólito frisson

(a pergunta é: teria o episódio tanta importância para causar tamanha celeuma? ou, por outra: que mistério esconde a psiquê humana para se comprazer com coisa deste tipo?)

"Não que isso seja um 'mea culpa', que um 'mea maxima culpa' não é. Não há nada, miseravelmente nada que possa ser considerado insultuoso na tal mensagem, o potin do momento a grassar copiosamente na 'turma' (segundo me disseram), imagino que à míngua de melhores potins (cá entre nós, que miséria, heim?). Nenhum adjetivo malsão, nenhum comentário ofensivo tipo “o cara é um chato” ou similar. Há, sim, uma confissão de uma amiga para outra de que o comportamento de alguém, uma pessoa a quem se queria ter na pura conta da amizade, a constrangeu.
Sim, a tal mensagem foi, por distração minha, mal endereçada, isso já deve ter sido percebido. Penitencio-me. De fato, peço desculpas, do fundo do meu coração, com toda franqueza d’alma, por não ter usado meus neurônios de forma mais eficiente ao teclar o comando “enviar”. E por esta tão-só razão é que a mensagem aqui segue copiada para quem aquela primeira, a famigerada, foi equivocadamente transmitida.
Quanto ao conteúdo, sinto dizer que dele não poderia me escusar por uma razão muito simples: não estaria sendo sincera contigo. Eu não aprendi a mentir, em que pese minha quase provecta idade. Desculpe, mas fiquei constrangida com aquele comportamento seu, digamos, ‘intimex’. Fiquei tão embaraçada que perdi o elán, e estava adorando dançar ali no meio do povo naquela festa dos trinta anos; sentei-me e não voltei à pista. Excesso de suscetibilidade? Não creio, não costumo ser especialmente suscetível em assuntos de amigo-amiga.
Eu perdi a naturalidade com você e isso é muito chato quando acontece com um amigo homem. Eu tenho amigos homens, nunca deixei de tê-los nestes quase vinte anos de casada, amigos apenas meus, é uma coisa minha gostar de trocar idéias com eles (às vezes até mais com eles do que com elas), meu marido sabe disso e não me censura. Por exemplo, adoro conversar com o "X" (estamos querendo marcar um chopp com um amigo comum há séculos) e também com o "Y" e com o "Z" (conversei horas outro dia com o "Z" na casa da "C", uma delícia). Adorei reencontrá-los, tenho o maior carinho por todos vocês rapazes. Aliás, quando vc apareceu fiquei muito contente, tanto que te escrevi uma mensagem de boas-vindas. Então logo contigo, uma pessoa em quem semprei achei a maior graça, não poderia conversar naturalmente? Muito chato. Quer dizer ainda que não poderia te dar um poeminha de presente de aniversário como dei pro "B" outro dia? Que teria que ficar na retranca? Que miséria. Saiba que ficaria realmente triste.
E mais triste ainda fiquei ao saber que você não havia entendido o que eu dissera.
Mas espero que agora saiba, sobretudo que perceba que não houve intenção de te ofender. E que a mensagem de fato não te ofende, apenas relata um fato. E que, ali, igualmente não há nada que um pouco de leveza e humor não possam sublimar.
Esperemos que um potin mais divertido distraia os corações e mentes da 'turma'.
E que, enfim, possamos nós dois trocar de bem.
Desculpe algum mau jeito.
Da amiga que te quer amigo,
Denise
p.s. peço encarecidamente a todos que não façam reply desta mensagem,não haverá caixa postal que agüente."

a famigerada mensagem endereçada a quem não de direito

(esta mensagem caiu na caixa errada e causou frisson na "turma". A minha pergunta é: o que há de insultuoso nela?)


"eu até havia pensado em ir amanhã dar uma prestigiada nele, mas o caso é que toda vez que o encontro o cara fica me agarrando, me pegando, me chamando de gata, tomando umas intimidades que nunca lhe dei... muito, muito chato! então, num sei, acho que não vou, não. Mas keep cool, gata, já já essa turma rides again e vc vai reencontrar you know who. Ok?
take care, babe.
bjs e saudade"