quarta-feira, novembro 08, 2006

incerto

pelo sim, pelo não
deixo a chave na porta:
vai que você volta
e te dou meu perdão?

quarta-feira

a cidade gira
a britadeira irrompe a manhã
a vistoria do carro, o táxi perdido, o horário
o estresse-pão de cada dia
o trabalho
o almoço, o drinque na Lapa
um porrezinho
o excesso de velocidade, a desculpa esfarrapada, a gafe

e o celular esquecido
e a confissão do amigo
e o travesseiro
e amanhã...

a cidade gira

sábado, novembro 04, 2006

aquela tua foto

Foi naquele dia que dormi de olho aberto, quer dizer, desde aquele dia. Comecei a ver um buraquinho, depois cresceu, cresceu, e era o encosto de palhinha da cadeira de balanço. Desde aquele dia que eu respirava sôfrega fazendo inalação para conseguir colocar algum ar em meus brônquios alquebrados. Desde então que penso como vocês são bonitos naquele momento instantaneamente eternizado.
Aquela foto, é dela que falo. Ficou tão bonita que não quis colocar num porta-retrato, tão bonita que não quis dependurar no painel, tão linda que fiquei vagando com ela nas mãos pela casa até ficar tarde e eu ficar cansada porque já não respirava mais. Foi desde aquela noite em que a música tocou até de manhã na casa do vizinho de trás e eu me embalei com aquelas canções de que gostei tanto.
Daquela carta tua que encontrei dobrada no canto da gaveta, é dela que falo. Vocês me mandaram a foto, nós todos tão bonitos e tolos, e depois de ler a carta e olhá-la, e olhá-la, é que fiquei naquele estado siderado, fora de órbita, dormindo de olho aberto, sentindo um não-tempo, presa num vácuo tépido e gostando daquilo.
Desde aquele dia que dormi de olho aberto que parece que não acordei até agora, porque fico pensando na foto e em nós naquele momento.
Vou fechar os olhos para ver se acordo um pouco.